Economia

O destaque que vem do solo

Rio Grande do Sul é o quarto estado com maior produção de alho no Brasil e produtores locais prospectam uma das melhores safras dos últimos tempos

Com a chegada do mês de novembro, as preocupações com a colheita e a comercialização do alho são temas que voltam a ser debatidos entre os produtores. Afinal, a cultura emprega muita mão de obra na região da Serra Gaúcha, especialmente nos munícipios de São Marcos, Flores da Cunha, Nova Pádua, Campestre da Serra, Vacaria, Bom Jesus, São Francisco de Paula e Caxias do Sul. 
De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, a produtividade da nossa região gira em torno de 10 a 12 mil quilos por hectare e reúne cerca de 1.800 famílias em todo o estado. A maioria dos produtores florenses não planta aqui e sim nos campos de cima da serra, local que se destaca nesse segmento. 
“Cultivamos, no Rio Grande do Sul, uma média de 2,2 mil hectares e somos o quarto estado com maior produção, os três primeiros são: Santa Catarina, Goiás e Minas Gerais. O país conta com cerca de 16 mil hectares e produção de aproximadamente 180 a 200 milhões de quilos, o que corresponde a pouco mais de 50% do consumo nacional”, pontua Schiavenin. 
Resultados positivos que só são possíveis com a colaboração do clima e investimento por parte dos agricultores, uma vez que a cultura tem um custo muito elevado. “Pelo que constatamos, este ano vamos ter um alho de excelente qualidade, muito bonito, bem desenvolvido, graúdo e são, está perfeito. Certamente será uma das melhores safras que se teve nos últimos tempos.  O clima ajudou e os produtores, a cada ano, têm um manejo mais adequado, usam tecnologias modernas para produzir e cuidam bem da semente – que é o principal fator para que se tenha uma boa produtividade”, explica o presidente do STR, ao mesmo tempo em que compara que em 2021 a safra está cerca de 15 dias atrasada em relação a 2020, em função do clima.
E por falar em tempo, a previsão é que ele seja favorável para a colheita dessa safra, como já vem contribuindo, de forma geral. “Com chuva em excesso o alho pode perfilar, ele começa a brotar de novo e abre o bulbo – chamado alho sorriso, porque mostra os dentes – e alho aberto vai para a indústria e não para o mercado”, esclarece Schiavenin. 
Uma boa produção e um produto de qualidade também são os responsáveis por garantir o valor de comercialização do alho nacional, que é considerado quatro vezes melhor em relação ao chinês. “Nos últimos anos o preço está razoável, já tivemos épocas bem piores. Está girando em média R$ 4 a R$ 6 acima do número”, destaca, ao mesmo tempo em que explica que o alho é classificado por números, que variam de acordo com o tamanho do bulbo – o maior é o número 7, depois vai baixando até o 3, já os números 1 e 2 são referentes ao alho de indústria.
Segundo o agricultor Livonei Schio, de 44 anos, que cultiva o produto há mais de 20, a expectativa pela definição do preço também está entre R$ 4, a R$ 6, acima do número. “Tem que produzir muito bem para ganhar isso e mais ou menos dar empate. O custo desse ano foi alto com adubação, ainda bem que eu comprei mais cedo porque falar em adubo agora é de cair de costas. O problema é se o valor continuar assim para o ano que vem, nos preços que estão falando, não sei o que vai acontecer, porque tudo aumenta”, argumenta Schio.
No que diz respeito ao clima, o produtor da Linha 60 explica que há algumas semanas estava chovendo muito e assim que o sol aparecia ele tinha que iniciar os tratamentos para evitar o surgimento de doenças. Em contrapartida, hoje que o alho está formando o bulbo, a água se faz necessária. “Agora vai normalizar porque quando colocamos a água fica mais fácil de controlar as doenças, aí molhamos e tratamos. Já quando chovia, molhava quase todo dia – fazia 100mm por semana – e acabava tendo que tratar e gastar mais. Assim, mesmo gastando em molhar, é mais vantajoso do que ter que tratar a cada dois ou três dias, se não começa a aparecer doenças”, explica o agricultor, que acredita que o ideal seriam chuvas semanais e regulares de 20 a 30mm. 
Mesmo assim, Schio afirma ter conseguido controlar bem a bactéria e acredita que em 2021 o alho plantado em seus quase dois hectares terá uma ótima safra. “Esse ano acho que vai dar um pouco mais, o alho está bem bonito, com qualidade boa, então acredito que vai dar perto de 13, 14 mil kg por hectare”.  Número considerado positivo em relação às colheitas anteriores, que oscilavam de 10 a 12 mil kg. 
“Se produzir menos de 9 ou 10 mil kg, mesmo que o preço esteja bom, começa a entrar no prejuízo, porque eles pagam pelo tamanho da cabeça – bulbo – e pela qualidade. Quando se produz pouco, baixa para o número 4 ou 5 e, consequentemente, baixa o valor também, por causa do tamanho. Então se produzir grande vai ganhar mais em valor e produzir mais por hectare”, revela Schio, que sempre cultivou entre um e dois hectares de alho.
O produtor planeja iniciar a colheita na última semana de novembro, onde deve contar com o auxílio de mais quatro pessoas no período de uma semana. “Quando está pronto tem que tirar, aí vem o pessoal e arranca por metro e nós penduramos. Depois eu limpo ele em casa e vendo, geralmente para empresas daqui de Flores da Cunha e de Nova Pádua. Eles classificam e embalam para subir para São Paulo, porque eu não vendo direto para lá”, pontua.
Após realizar a colheita, já em janeiro de 2022, iniciam as preparações para a próxima safra, com análise, correção de solo e adubação, mesmo que só em maio sejam colocados na câmara fria e em junho, inicie o plantio. “É uma sequência que tem que pensar agora para ver o ano que vem quanto vai plantar, a área que vai utilizar; porque o alho não dá para plantar sempre na mesma área, tem sempre que fazer o rodízio. Dá para plantar na mesma terra dois ou três anos, depois vai começar a aparecer doenças na terra e no alho”, finaliza Schio, que também produz cebola, uva e milho

Livonei Schio, 44 anos, acredita que o alho dessa safra terá uma ótima qualidade.  - Karine Bergozza
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