Economia

Empresários temerosos sobre o rumo da economia em 2014

Eleições, Copa do Mundo e possibilidade de novos protestos populares são os principais desencadeadores de incertezas sobre o crescimento

A indústria moveleira está vendendo entre 10% e 15% menos do que o esperado para esta época do ano, a qual seria de aumento de demanda, estima o presidente do Centro Empresarial (CE) de Flores da Cunha, Vanderlei Dondé. Em função da diminuição da produção, algumas empresas do setor estão flexibilizando jornadas de trabalho. Aliado a isso, eleições, Copa do Mundo e a possibilidade de novos protestos populares estão gerando muitas incertezas sobre o crescimento do país no próximo ano.

Para Dondé, além da alta da inflação, uma das razões que contribui para a diminuição das vendas é o comprometimento da renda, com gastos como parcelas de automóveis, por exemplo. “O consumidor acaba adquirindo, financiando e demora para pagar, e isso gera uma bolha no mercado”, diz. “Poucas áreas estão com demandas grandes.” Ele explica que em função da taxa cambial favorável, as empresas que exportam conseguem trabalhar com mais tranquilidade, mas em Flores da Cunha, no setor de móveis, segundo ele, a grande maioria atua no mercado interno.

Dondé, porém, acredita que para a indústria em geral ainda não é possível prever estabilidade. “O próximo ano não será mais fácil do que foi 2013”, afirma. O receio se deve à proximidade das eleições, já que neste período os governantes que buscam reeleição, por lei, ficam limitados no que se refere a compras e execução de obras públicas. Além disso, a atenção dos governos estará voltada aos preparativos finais da Copa do Mundo, sediada em 12 capitais do Brasil. “Será um ano de instabilidade, principalmente por causa da definição da presidência. Muitas ações podem impactar diretamente na economia”, prevê Dondé.

Falta ritmo
Para o diretor da Câmara de Metalurgia do Centro Empresarial e diretor administrativo e financeiro da Keko Acessórios, Volnei Ebertz, a economia nacional não está no ritmo esperado, desde a indústria do calçado, por exemplo, até a indústria pesada, de caminhões e ônibus. Ele menciona a interferência de questões da macroeconomia, como crise dos Estados Unidos e a desaceleração da China, uma das principais importadoras de matérias-primas brasileiras.

A diminuição dos pedidos de empresas como a Marcopolo, de Caxias do Sul, segundo Ebertz, não atingem a metalurgia florense, já que o número de fornecedores não chega a ser expressivo. O que ocorre é que como a maior parte das metalúrgicas locais abastece outras maiores, acabam parando as atividades paralelamente às compradoras. “O ritmo é ditado pela antecipação de pedidos”, explica.

Além disso, os empresários em geral temem os rumos da economia para o próximo ano. Em função das manifestações populares, reviravoltas políticas e proximidade com a Copa, os administradores, de acordo com Ebertz, estão menos confiantes e mais cautelosos nos investimentos. “Estamos antecipando uma preocupação que se possa ter”, antevê.

Para 2013, a maior parte das empresas locais planeja férias coletivas. A tendência é que as atividades parem nas semanas do Natal e Ano-Novo, provavelmente próximo ao dia 20 de dezembro, retornando no dia 10 de janeiro.


‘Voo da galinha’

O diretor de Economia, Finanças e Estatísticas da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Alexander Messias, acredita que, semelhantemente ao que ocorreu neste ano, o Brasil não deve crescer mais do que 2% em 2014. “É uma vergonha para nós”, sentencia. Além da inflação, ele acredita que a falta de formação de profissionais adequados para atender a demanda e os entraves de logística – que na região podem ser representados pela demora na construção de um novo aeroporto e pela precariedade das rodovias, como a Rota do Sol – contribuam de forma expressiva para tornar os produtos brasileiros caros, baixar a produtividade da indústria e afastar novos investidores.

Estes problemas não são novidade, mas anteriormente acabavam compensados por outros fatores, como o alto consumo das classes em ascensão, segundo Messias. A situação agora, porém, é diferente. “O consumo se equilibrou, não temos mais saltos. Não é todo o dia que a pessoa pode comprar um apartamento ou trocar de carro”, exemplifica.

Ela ainda destaca que assim como os brasileiros não estão com boas expectativas, o Exterior já não vê o país com o entusiasmo de poucos anos atrás, mencionado o caso da revista britânica The Economist, que em 2009 fez uma capa em que o Cristo Redentor alçava voo do Corcovado com a chamada “O Brasil decola”. Este ano, a mesma publicação fez uma capa com o Cristo Redentor, que antes voava , agora em queda, com o questionamento “O Brasil estragou tudo?”. Messias explica: “É o que os economistas chamam de ‘voo da galinha’, ou seja, crescemos um monte no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora não temos tanta força”.


Projeção de 2013 (à esquerda) e a de 2009 (decolagem).

Demanda moveleira está entre 10% e 15% menor estima presidente do Centro Empresarial florense. -
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