Economia

Economia ensaia retomada

Dados do Observatório do Trabalho destacam Flores entre as cidades que mais geraram vagas de empregos em julho

Após um período de retração, reflexo das fortes restrições impostas pelo isolamento social principalmente em maio, a economia parece ensaiar um reaquecimento. É o que sugerem os números da Carta Mensal do Mercado Formal de Trabalho, organizada pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS). O documento denota a criação de empregos entre os principais municípios da Serra Gaúcha após meses no vermelho e aponta Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Flores da Cunha e Garibaldi como as cidades que mais geraram vagas no mês de julho, impulsionadas, principalmente, pelo setor da indústria.
“Dos 14 municípios avaliados pelo Observatório, apenas quatro tiveram resultado negativo. Ou seja, mais fechamento de postos de trabalho do que de abertura: Canela, Torres, Guaporé e Caxias do Sul, este último com saldo negativo de 280 postos de trabalho. Bento, Carlos Barbosa e Flores da Cunha tiveram desempenho maravilhoso, com saldo acima de 100 postos de trabalho, sendo puxado principalmente pela indústria, com maior geração de empregos. No caso de Flores da Cunha, agropecuária e a construção civil foram os que mais fecharam, mas não afetou o saldo”, explica a coordenadora do Observatório do Trabalho, professora Lodonha Maria Portela Coimbra Soares.

Saldo positivo

Em julho, Flores da Cunha registrou 369 admissões e 254 desligamentos, resultando em um saldo positivo de 115, representando um acréscimo de 1,14% sobre o estoque de empregos formais. Desse modo, o estoque do município foi de 10,2 mil empregos com carteira assinada. A indústria foi o setor que mais influenciou o resultado positivo, com abertura de 68 postos de trabalho, marcando um aumento de 1,26% do nível de empregos nesse setor. O resultado positivo do acumulado do ano foi influenciado principalmente pelo comércio, que teve 63 vagas abertas. Já os últimos 12 meses apresentaram resultado negativo em consequência principalmente da indústria, que teve 194 postos fechados, representando a maior contração, com decréscimo de 3,42%.
O saldo positivo de julho foi o segundo mês com abertura de vagas, após três meses de encerramento de postos formais. Em julho de 2019, Flores da Cunha criou 33 empregos com carteira assinada, enquanto em julho de 2020 criou 115 empregos. No acumulado do ano houve criação de 48 empregos, contra 289 postos formais criados no mesmo período do ano anterior. Nos últimos 12 meses, o município registrou 78 empregos encerrados.

Expectativas

Conforme Lodonha, as perspectivas para os números de agosto, que serão divulgados em setembro, é que continue essa melhora no desempenho do saldo do mercado de trabalho, a medida em que a flexibilização está mais intensa. “Mais abertura do comércio pode levar a uma melhora no entendimento dos agentes econômicos de que o pior já passou, que foi, principalmente, o desempenho de abril e maio, que foi muito negativo”, salienta a coordenadora.
A professora ressalta, no entanto, que talvez seja preciso “ficar com o pé atrás” com relação ao PIB do trimestre no Brasil, que teve queda de 9,7% em relação ao trimestre anterior e pode refletir nas expectativas e no mercado de trabalho. “Sabemos que o setor de serviços está muito prejudicado, principalmente o turismo e o serviços de festas, que foi muitíssimo afetado. Mas podemos ver que, em municípios como Flores da Cunha, a indústria vem tendo um papel fundamental para a melhoria do saldo, com geração de postos de trabalho formal. Para agosto a perspectiva é de que continue a melhora, principalmente nos municípios que já estão com saldo positivo. E que os que tiveram desempenho negativo possam, pelo menos, chegar no nível e não haver saldo negativo de emprego”, conclui Lodonha.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) florense, Jásser Panizzon, também acredita que a maior flexibilização para o funcionamento das atividades comerciais será importante para a retomada. “Tem uma gama de consumidores que ficaram retraídos e agora, para compensar essa ansiedade, esse estresse, essa imposição que a pandemia forçou, vão procurar uma válvula de escape, entre elas, comprar, consumir. Flores da Cunha, tradicionalmente, tem um histórico de empreendedorismo, uma cidade que tem uma população economicamente ativa, uma economia diversificada. Não chamaria de retomada, mas um ensaio para essa retomada. Um início otimista desse retorno”, afirma Panizzon.
A secretária municipal de Desenvolvimento Social, Vera Lúcia do Nascimento, entende que os resultados positivos devem-se à diversidade de indústrias de vários setores instaladas na cidade. “E de empresários visionários que, mesmo em época de crise, buscam alternativas e oportunidades para superar”, enfatiza.
Outro importante termômetro da economia é o Sine, que serve como indicador pelas ofertas de vagas disponíveis. Neste mês, 35 postos de trabalho estão sendo oferecidos na agência.

Desempenho de julho, do acumulado e dos 12 meses por setor de atividade econômica, em Flores da Cunha

Otimismo na indústria

A indústria também está otimista. O diretor administrativo da Treboll, Gustavo Toigo, afirma que a empresa está retomando com boas expectativas. “Houve poucas demissões pontuais, mas nenhuma em virtude da pandemia”, diz o executivo da indústria de móveis, que tem com mercados principais, além do Brasil, América Latina, Europa e Estados Unidos.
O CEO da Florense, Mateus Corradi, também se mostra confiante. “As perspectivas são muito boas. O setor acabou sendo valorizado em meio a tudo isso que aconteceu. O mercado inteiro no nosso segmento está em um alto grau de atividade industrial e inclusive vemos até certos problemas desabastecimento da cadeia porque muitos fornecedores acabaram reduzindo sua produção e houve até falta de alguns materiais”, explica.
A OMP do Brasil, que atua nos ramos de mobiliário urbano e corporativo  e de perfis de alumínio, também comemora o momento. “O cenário é de retomada. Muitos projetos voltaram para mesa e agora alguns setores estão vivendo um excesso de demanda devido à retração e parada enfrentada em abril e maio. Inclusive  já faltam algumas matérias-primas essenciais”, avalia o diretor Fábio Massochini. 
Segundo ele, o cenário “catastrófico” do início da pandemia levou a demissões e a pedidos cancelados em abril e maio, com queda acentuada no faturamento. Em julho e agosto já houve contratações, embora o total de funcionários ainda seja inferior à anterior a antes da Covid-19. “As vendas de julho refletiram essa retomada do mercado. No segmento do alumínio, o crescimento superou os 200%, mas não podemos esquecer que estávamos muito retraídos e já se enfrenta uma inflação na compra de matéria-prima, existindo o sério risco de falta de material em breve. No segmento do mobiliário, crescemos em números mais cautelosos, ficando 20% maior do que  junho”, analisa Massochini.
A montadora Deise Carraro, 24 anos, foi contratada pela OMP há cerca de um mês. “A situação está complicada para todos, então é importante estar empregada para termos uma renda”, vibra a trabalhadora.

 

Empresa OMP contratou funcionários como a jovem Deise Carraro. - Diego Adami
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