Sobre Design, Inclusão e o caráter interdisciplinar desta área de atuação
Um designer que lê apenas sobre Design carece de algo fundamental: um olhar atento e aguçado sobre os variados temas que permeiam a sociedade na qual vive
O termo Design, ainda hoje é, muitas vezes, desconhecido, ou compreendido equivocadamente. Muitos o enxergam como algo fútil, ou supérfluo. Em síntese, Design é projeto. Se é atento aos fatores estéticos, também é voltado à funcionalidade e, mais ainda, a temas tão diversos como acessibilidade, ergonomia e inclusão.
Sempre explico para os meus alunos que, se então nossa profissão é uma área que dialoga com outras tantas, para isso é importante que um designer (o profissional que trabalha com Design) esteja sempre muito bem informado, que tenha uma cultura ampla e instigada pela curiosidade. Um designer que lê apenas sobre Design, pode ser um especialista em algum tema nosso, mas carece de algo fundamental: um olhar atento e aguçado sobre os variados temas que permeiam a sociedade na qual vive. Um designer, além de estética, funcionalidade, sustentabilidade – temas intrínsecos a sua formação – precisa saber de economia, história, geopolítica, relações humanas, compreender a nossa língua e outras mais. Este conhecimento mais amplo, facilita e muito a atuação profissional, por ser a nossa uma área que está sempre trabalhando com outras tantas. A cada novo projeto, precisamos nos abastecer de informações que tragam sentido e profundidade às soluções que apresentamos. Assim, por trás de temas às vezes improváveis, o design pode estar.
Para isso, posso trazer um assunto como o Marco Temporal das terras indígenas: essa pauta está em nossos jornais, nos portais de notícia, em nossas redes sociais. Visões antagônicas, Fake News, argumentações das mais variadas. A ideia não é entrar aqui no tema em si – deixo isso para os especialistas em Direito, política ou até mesmo economia. Mas mostrar como esta pauta – a questão indígena – tão ampla e tão rica em cultura e que marca presença nos noticiários atuais, serve sim como temática para o Design, através de várias abordagens. Para ficar em uma delas, busco do tema de minha Tese de Doutorado, que fala das implicações do Design na cultura indígena, no contexto da inclusão.
A inclusão é outro tema que perpassa o Design em muitos campos. Seja a inclusão de pessoas com algum tipo de necessidade específica, motoras ou cognitivas, seja no âmbito que abordei em minha pesquisa: a inclusão social (que não por coincidência, dá nome a um dos Programas de Pós-Graduação na Universidade Feevale: Diversidade Cultural e Inclusão Social). Durante este período, pude pesquisar e compreender mais sobre estes dois assuntos: inclusão e as culturas indígenas no Brasil. Para começar, eu falava cultura indígena, no singular, quando pude tomar contato com algumas das mais de 300 etnias que compõe nossos povos originários, foi então que me corrigi: ‘culturas’, no plural. Somos um país muito rico culturalmente. Coincidentemente o IPHAN, órgão que cuida do patrimônio cultural no Brasil, teve como principal articulador o designer Aloísio Magalhães, que inseriu o país no mapa dos ‘patrimônios culturais da humanidade’ e a título de curiosidade, em tempos de egoísmos e melindres em que vivemos hoje, nos anos 1970 Aloísio, um pernambucano, com Olinda como sua casa, lutou para que o primeiro patrimônio a ser reconhecido pela Uesco fosse o nosso sítio arqueológico de São Miguel das Missões, coincidentemente, relacionado ao Povo Guarani, tema de minha pesquisa. História, política, passado. Como disse antes, precisamos estar sempre relacionando estes temas. Então, voltando aos meus estudos, pude conhecer e trabalhar com entidades que tratam do tema, hoje, de forma responsável e, sob certa medida, pude buscar contribuir de alguma forma – através do Design – para que a inclusão e o respeito para com estes povos seja, cada vez mais, algo presente em nosso país. Um pequeno exemplo já é a síntese daquilo que, lá em cima, disse que sempre provoco em nossos estudantes: sejam curiosos, tenham ganas de aprender, de sempre buscar mais e mais conhecimentos. Isso nos abastece não apenas como profissionais, mas como indivíduos. Neste sentido, penso que o caminho que estamos trilhando em nossos cursos na Universidade Feevale tem esta visão: ter muito claro que Design se faz com pesquisa e determinação, com um olhar mais amplo para a sociedade, compreendendo os inúmeros atores que fazem parte deste complexo tecido. Ao formar profissionais que tenham essa visão sistêmica enquanto projetam, e um olhar inclusivo e empático enquanto cidadãos, certamente estaremos contribuindo para um futuro melhor.
Marshal Becon Lauzer
Professor da Universidade Feevale
Doutor em Diversidade Cultural e Inclusão Social
Coordenador dos Cursos de Design, Moda e Design Gráfico
marshal@feevale.br