Velhas receitas
Desde o início do ano ocorre uma guerra silenciosa entre as autoridades e o mercado financeiro.
Desde o início do ano ocorre uma guerra silenciosa entre as autoridades e o mercado financeiro. Os bancos de um lado pressionam para o aumento dos juros e, do outro lado, o governo resiste ao apelo das velhas receitas. Num país dominado por meia dúzia de grupos de comunicação, é fácil para quem possui muito dinheiro obter comentários favoráveis nem sempre bem intencionados de comentaristas em rede nacional. Quando necessário, entram em campo os defensores do aumento das taxas de juros por meio de comentários ditos ‘econômicos’, ou então, como matérias encomendadas travestidas de ‘reportagens’ em revistas semanais de grande circulação. Conforme afirma Delfim Netto, alguns economistas do sistema financeiro têm uma pretensiosa ‘ciência’ que nem sempre corresponde ao mundo real feito de produtos e pessoas.Inflação ou rendimento?
Nos últimos 14 anos a taxa média de inflação foi de 6,36%, muito próximo do teto máximo estabelecido de 6,5%. Aparentemente isso nunca foi problema, ou ao menos não era reportagem de capa, nem de interesse dos comentaristas. Um dos prováveis motivos pode estar na taxa de juros real. Na maioria deste tempo ela era de 7% a 8% ao ano e isso não causava problemas ao setor financeiro, mas travava o crescimento econômico. Os bancos simplesmente davam de ombros como quem diz “Isso é problema do mundo econômico, nós cuidamos do mundo financeiro”. A inflação começou a ser um ‘problema’ quando a taxa de juros reais passou a 2% ao ano, o que exige mais esforço para rentabilizar o capital e que pode gerar prejuízos na maioria das aplicações financeiras. Nestes patamares a inflação se torna insuportável, ao menos para o mercado financeiro.
Efeitos e riscos
O último aumento nas taxas de juros foi em julho de 2011, quando ela passou de 12,25% para 12,50% e a inflação no período foi de 6,5%. A partir de então as taxas foram reduzidas para níveis decentes, deixando de ser a maior taxa de juro real do mundo. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta semana, de elevar a taxa Selic de 7,25% para 7,5% ao ano, pode contemplar diversos aspectos, mas principalmente o de acalmar o sistema financeiro e sua turma de comentaristas e defensores. Mas embutem alguns riscos: um deles é mostrar que quando pressionados os gestores monetários cedem, e isso, em vez de acalmar o mercado, pode resultar em mais pressão para taxas maiores.
Cautela
No cenário atual as taxas de juros reais estão em 1% ao ano. Algo inaceitável para o setor financeiro que trabalhou com 10% ao ano no início do Plano Real. As justificativas oficiais para a elevação foram o “nível elevado da inflação e a dispersão de aumento de preços”. Por outro lado, o comunicado fala em cautela na administração da política monetária em função das incertezas internas e externas.