Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Vacina para todos

As empresas farmacêuticas deveriam abrir mão das patentes das vacinas contra a Covid e compartilhar a tecnologia com países de baixa renda

As empresas farmacêuticas deveriam abrir mão das patentes das vacinas contra a Covid e compartilhar a tecnologia com países de baixa renda. Com isso, os países mais pobres poderiam desenvolver vacinas a custos compatíveis com sua realidade. Essa é uma teoria de ajuda humanitária que tem crescido em todo o mundo. Colocada dessa forma, a proposta pode incitar reações do tipo “comunista”, “vai pra Cuba” e outras menos educadas. Calma. Antes que comecem os mugidos da ignorância tentarei explicar: essa iniciativa partiu de empresas de investimentos que, juntas, possuem 3,5 trilhões de dólares em ativos – para efeito de comparação, isso equivale a mais do dobro do PIB do Brasil. E nenhuma delas está na Coréia do Norte ou em outro país comunista. 

Vacinados
Na visão dos investidores, um sistema mais igualitário é importante, tanto do ponto de vista humanitário quanto financeiro. Segundo cálculos do FMI, a divergência na vacinação entre países pobres e desenvolvidos pode custar à economia mundial 5,3 trilhões nos próximos anos. A proposta dos gestores de ativos é para minimizar esse efeito e reduzir o risco do surgimento de novas variantes. A lógica subjacente é que os investimentos atuais estão diversificados e não adianta obter lucros com as farmacêuticas e ter prejuízo nas demais empresas. Os argumentos estão lastreados em dados preocupantes: até o final de abril apenas 12% das populações dos países mais pobres havia sido vacinada, enquanto nos países desenvolvidos esse percentual chegou a 74%, apesar dos militantes anti-vacinas. Em números globais 11,7 bilhões de doses foram distribuídas até o dia 15 de maio, mesmo assim, um terço da população mundial permanecia sem a primeira dose do imunizante.  

Debate
A pressão sobre as grandes farmacêuticas iniciou em 2021, seja por meio de órgãos reguladores ou através de ONGs que se tornaram acionistas destas empresas. Isso levou os acionistas de duas fabricantes, a Moderna e a Pfizer, colocarem o assunto de cooperação tecnológica para ser debatido na assembleia dos acionistas. Apesar de não ter sido aprovado, os resultados não foram totalmente desanimadores, 24% dos acionistas da Moderna e 27,3% da Pfizer disseram sim a proposta. A fabricante da vacina Janssen foi obrigada a colocar em assembleia de acionistas como os recursos financeiros recebidos do governo americano foram utilizados. Apesar da não divulgação dos resultados, a pressão ficou registrada. 

Lucros
As empresas alegam que entregaram muitas doses de vacina para países de baixa renda com o seu “melhor preço”, além disso o processo de produção é complexo, envolvendo centenas de ingredientes provenientes de vários países. Porém, os militantes alegam que é uma desculpa para proteção dos lucros. Os números realmente impressionam. A Pfizer lucrou 22 bilhões de dólares em 2021 enquanto em 2020 o lucro foi de 9,1 bilhões. O caso da Moderna é mais impressionante. O lucro foi de 12,2 bilhões depois de um prejuízo de 747 milhões no ano anterior. A margem de lucro foi de 70%.  O importante nesses casos é que o debate da vacina já não é mais sobre a sua eficácia, mas da possibilidade de disseminá-la de forma mais rápida, ajudando a OMS a atingir a meta estabelecida de vacinar 70% da população mundial no ano de 2022.