Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Um novo sistema financeiro?

A nova crise que se abate sobre as finanças mundiais leva ao debate sobre a necessidade de um novo sistema financeiro mundial.

Um novo sistema financeiro? A nova crise que se abate sobre as finanças mundiais leva ao debate sobre a necessidade de um novo sistema financeiro mundial. Relembrando, desde os anos 30, o mundo capitalista experimentou duas mudanças radicais no segmento financeiro. A primeira foi do período de 1945 a 1975, quando vigorou o regime estabelecido em “Bretton Woods”, baseado nas idéias de Keynes. Por esse acordo a moeda dos países tinha seu lastro depositado em ouro. Esse sistema acabou em 1977, quando os Estados Unidos tomaram uma decisão unilateral e desistiram do câmbio fixo, estabelecendo que as moedas iriam flutuar livremente, nessa época o dólar já era moeda de referência mundial. Esse segundo período atingiu seu ápice em 1989 com a criação do “consenso de Washington” que o telejornal e seus papagaios denominaram “globalização”. No fundo consistiam numa série de recomendações políticas, denominadas de neoliberais, que compreendiam desregulamentação financeira, livre circulação de capitais e afastamento. Esse sistema começou a mostrar suas deficiências em 2007 com o início da crise da dívida. Diferenças A diferença básica entre os dois sistemas está no papel do estado. O acordo de “Bretton Woods” era um liberalismo limitado. Permitia o movimento de capitais, mas impunha uma disciplina com uma série de limites estabelecidos por acordos políticos. O regime que o sucedeu, denominado de neoliberalismo, esta associado a Reagan e a Thatcher, e estava baseado no afastamento da regulamentação econômica. O Estado não deveria intervir na economia, ao contrário deveria reforçar as regras de competição. No campo das finanças essas recomendações estavam justificadas na “hipótese dos mercados eficientes” onde se acredita que o mercado é transparente e os preços refletem todas as informações relevantes. Informação e confiança Alguns avisos foram emitidos, porém, em períodos de euforia quem pedir bom senso corre o risco de ser chamado de louco. Em junho de 2007 o “Bank of International Settlements” (BIS) colocou em seu relatório que “anos de política monetária desregulada inflaram uma gigantesca bolha de crédito”. Apesar de ter sido ignorado, mostra que haviam informações disponíveis. Os eventos de 2008 tornam difícil evitar o pensamento de que entramos em uma nova fase. Eles têm mostrado constantemente que as soluções não serão simples, e o único ponto de referência que restou são as instituições governamentais. A crise traz consigo uma perda geral de confiança no modelo vigente. O terceiro regime? Ainda é cedo para dizer como será o sistema financeiro internacional após esses eventos. O que temos até o momento são movimentos contraditórios. Dos cinco maiores gigantes financeiros do mundo, três não existem mais, desmentindo a máxima de que uma empresa “é muito grande para quebrar”. De outro lado, para evitar maiores problemas, instituições se juntam e ficam maiores para enfrentar a crise. Os poupadores olham desconfiados para esses novos gigantes, questionando toda a arquitetura financeira vigente até então. As grandes questões são sobre quem serão os atores principais dos próximos eventos, quem será responsável pela liquidez das economias e quem irá restaurar a confiança perdida.