Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Torturando números

A ilusão de olhar números absolutos pode levar a conclusões equivocadas. 

Torturando números
Mais alguns exemplos da arte de torturar os números. Recebo do Ministério do Trabalho o informe com o seguinte titulo: “Dia do Trabalho é marcado pela retomada do emprego em todo o Brasil”. Nele consta que mês a mês está se confirmando a tendência de recuperação do mercado de trabalho. As medidas adotadas desde 2016 estão trazendo os empregos de volta. O boletim usa os números de março para justificar seu otimismo, onde o número de empregos formal aumentou 0,15% sobre o mês anterior e foi o melhor mês de março desde 2013. Será justificado tal otimismo? A resposta é um grande e sonoro não. A ilusão de olhar números absolutos pode levar a conclusões equivocadas. 

Outros dados
Na mesma semana dessa carta eufórica do Ministério do Trabalho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também vinculado ao governo, divulga os dados do primeiro trimestre do ano e aponta que o desemprego aumentou; a taxa que era de 11,8% há um ano passou para 13,7%. Segundo o relatório, foram eliminados 1,528 milhão de postos de trabalho no primeiro trimestre. O que levou o número de carteiras assinadas ao pior patamar da série histórica iniciada em 2012. Desde 2014 foram perdidas 4 milhões de vagas. Para o setor de Trabalho e Rendimento do IBGE, o grande responsável por esta retração é o ritmo lento de recuperação da atividade econômica. E pensar que ao aprovar a Reforma Trabalhista muitos especialistas afirmaram que isso permitiria a criação de 2 milhões de empregos nos próximos dois anos. Aparentemente a profecia não se realizou. As razões são as mais diversas. 

Razões
A primeira deve ser creditada ao fraco crescimento econômico. Sem aumento do consumo não há clima propício para investimentos e contratação. Com remuneração menor, ou com risco de desemprego, o consumidor opta por economizar ou adiar o gasto. Com isso inicia uma espiral descendente muito difícil de reverter. Os que defendem a intervenção na economia utilizam a teoria de Keynes dizendo que o Estado deveria investir para reverter essa tendência. Porém, os dados divulgados indicam que foi o menor investimento público dos últimos 70 anos. Assim, restaria a iniciativa privada como vetor de crescimento. Contudo, isso também não acontece. Os motivos podem estar na falta de confiança, ou na baixa expectativa de melhora, ou simplesmente porque ainda há muita capacidade ociosa. Outra razão é que a mudança na legislação não significa mais contratação. Ninguém contrata porque é mais fácil demitir. As empresas contratam por necessidade, assim como a demissão é feita por necessidade, não por maldade, como muitos imaginam. São ajustes necessários. Isso fica muito longe de facilidade ou dificuldade para contratar. Não bastasse isso, ainda há a confusão com a falta de regulamentação de alguns pontos da nova lei, juntemos a isso a falta de clareza quanto ao futuro político e econômico e temos um cenário perfeito para simplesmente não fazer nada e aguardar. Afinal, não se brinca com dinheiro.