Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Tolos

Conheça a teoria financeira denominada de “teoria do mais tolo”

Existe uma teoria financeira denominada de “teoria do mais tolo”, que funciona mais ou menos assim: alguém compra um ativo que se valorizou bastante porque acredita que ele irá se valorizar e surgirá “alguém mais tolo” que estará disposto a pagar um valor mais alto por ele. Essa é uma teoria sempre lembrada quando há “bolhas” no mercado financeiro. Bolhas é quando ocorre certa “perda de racionalidade” em relação a um ativo em que o preço aumenta de forma exagerada, ultrapassando o que os analistas chamam de valor intrínseco ou essencial. O principal problema destas bolhas é que só tomamos conhecimento delas quando estouram. Mas aí pode ser tarde demais. 

Bolhas
As bolhas especulativas ocorreram várias vezes ao longo da história. O caso mais antigo foi a “mania das tulipas”, na Holanda, no século 17, quando as pessoas vendiam suas casas para comprar bulbos de flores devido a escalada de preços. Mais recente, foi o caso da “ponto.com”, no final dos anos 90, quando o valor de algumas empresas de tecnologia atingiu elevados índices, antes mesmo que elas obtivessem algum lucro. Muitas delas eram avaliadas com preços altíssimos, mesmo sem nenhuma receita. Do ponto de vista racional, ninguém compraria algo por um preço superfaturado (nesse caso o governo não conta). Porém, do ponto de vista da teoria do mais tolo, o objetivo de pagar por um preço mais alto é a possibilidade de haver outra pessoa a quem se poderá vender por um preço superior. 

Recentes
O assunto tem se tornado recorrente neste ano por duas razões: o preço das criptomoedas e o surgimento dos NFT (non-fungible token). Os nfts são ativos digitais (como um quadro ou um desenho) criados com a tecnologia blockchain, que assegura a exclusividade e a autenticidade daquele item. Um exemplo de nfts e da teoria do mais tolo, é a primeira mensagem de Twitter publicada. Foi transformada num ativo digital, criptografada e vendida por 2,9 milhões de dólares. Porém, colocada em leilão, o valor atingiu apenas 10 mil dólares, uma queda de 99%. No caso das criptomoedas, o valor do bitcoin tem queda de 50% em 2022, enquanto o ethereum caiu 69%. Esses eventos sugerem que a corrente para encontrar outro “mais tolo” foi interrompida. Mesmo assim, sempre haverá aquele que conheceu “alguém que ganhou dinheiro”. O que é óbvio, de acordo com a teoria, alguém tem que ganhar para atrair os demais. 

Notícia
O mesmo fenômeno do mercado financeiro é observado no segmento de notícias e em alguns programas de debates, nos quais argumentos e números são jogados para o público sem o mínimo de lógica com a realidade. Esses dias, por distração, a TV estava num desses canais que dão traço nas medidas de audiência, eis que um dos “debatedores” afirma que os prejuízos da Petrobras com os escândalos foram de R$ 900 bilhões. É isso mesmo, o valor é quase R$ 1 trilhão. Menos mal que um dos presentes lembrou que isso era impossível, considerando que a empresa vale menos da metade desse valor. Será que o outro se convenceu disso? É lógico que não, estava cumprindo seu papel de encontrar os “mais tolos” que vão repetir o argumento.