Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Tecnologia

O Brasil já domina essas tecnologias?

O novo ministro da Ciência e Tecnologia viajou para Israel em busca de parcerias para o desenvolvimento de tecnologias. Um dos resultados, o mais visível e anunciado com certo otimismo, foi o da tecnologia de tirar o sal da água, também denominado de dessalinização. Outro resultado da viagem foi receber de presente 11 máquinas que produzem água a partir da umidade do ar. Os dois fatos seriam motivo de comemoração não fosse um pequeno detalhe: o Brasil já domina essas tecnologias.

Sem sal
No caso da dessalinização, o processo consiste em transformar água salobra em água doce e existem várias tecnologias, todas elas dominadas por pesquisadores brasileiros, algumas exclusivas do Brasil, que foram desenvolvidas pela Universidade Federal de Campina Grande, que tem mais de 3 mil equipamentos instalados. Contudo, devido à falta de verba, não há monitoramento e não se sabe ao certo quantos desses equipamentos estão funcionando. Em outra ponta de atuação, o Ministério do Meio Ambiente criou, em 2004, o programa Água Doce, que previa a instalação de 1,2 mil equipamentos em parceira com os Estados – segundo o Ministério, há 924 equipamentos contratados.

Água do ar
Para conhecer a tecnologia de retirar água do ar a viagem poderia ser mais curta. Era só ir a Campinas e conhecer uma empresa brasileira, formada por engenheiros brasileiros, e que produz esses equipamentos com tecnologia própria desde 2010. Nesse período, os produtos foram apresentados aos governadores do Nordeste e a alguns órgãos federais, mas as tratativas nunca avançaram. É só mais um exemplo de como a seca pode ser um problema com mais enfoque político do que técnico ou econômico. Nesse ponto, alguém pode questionar que o preço pode ser o diferencial entre o produto nacional e o importado (o popular complexo de vira-lata, que acha que não podemos produzir coisas boas e baratas). Pois bem, o preço é similar e com tecnologia superior. O produto brasileiro controla a necessidade de sais minerais na água produzida e consegue produzir água com umidade de 10%, enquanto o equipamento israelense não faz o controle e necessita de 15% de umidade.

E agora? 
A viagem do ministro serve para algumas reflexões. Mostra que o lobby dos estrangeiros é eficiente e tem funcionado desde os aspectos políticos até aqueles econômicos. O segundo aspecto é que, novamente, aparece o famoso ditado de que santo de casa não faz milagre. Nos dois casos, a solução está próxima de nós e não a enxergamos ou não queremos enxergar. Ou, ainda, não confiamos nas soluções criadas pelo nosso país. Aqueles que gostam de teorias conspiratórias podem pensar que a viagem tem outros objetivos, como conseguir tecnologia para produzir bombas atômicas, quem sabe? De minha parte, fico apenas com os fatos. O melhor que pode acontecer é a viagem servir para impulsionar a tecnologia brasileira, o pior seria dar incentivo, sem necessidade, para que uma empresa estrangeira para se instalar no Brasil.