Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Soberano

Os recursos serão usados para pagar as despesas de custeio do próprio governo.

Soberano
No dia 21 de maio o governo anunciou o fim do Fundo Soberano do Brasil. Os recursos serão usados para pagar as despesas de custeio do próprio governo. Aparentemente, a notícia não deveria preocupar a maioria dos cidadãos. Mas não é bem assim. O primeiro aspecto é que o governo está raspando o tacho para pagar algumas contas e evitar um rombo maior nas contas públicas. Um economista comparou a decisão com uma família endividada, que busca desesperadamente vender as joias da vovó. Tal qual uma represa, que pode acumular água da chuva quando o volume é grande, e vai liberando aos poucos para evitar inundação, o fundo servia para manter a cotação menos instável, evitando a alta volatilidade. Muitos países utilizam um fundo soberano para o mesmo fim, entre os quais Noruega, Cingapura, Arábia Saudita e a maioria dos tigres asiáticos.

Funcionamento
O que faz o dólar oscilar pode envolver os fundamentos da economia num prazo mais longo. Mas no curto prazo o impacto é dado pelo fluxo de entrada e saída de recursos. Em caso de aumento das exportações em que um volume muito grande de dólares é recebido pelo Brasil, ao invés de colocar a moeda no mercado, o fundo podia acumular os recursos no exterior e ir fazendo os ingressos aos poucos sem pressionar o mercado e suavizando a oscilação. Quando o fluxo é contrário, o fundo utiliza os recursos e faz o pagamento no exterior sem comprar grandes volumes no mercado e impedindo altas abruptas no curto prazo. O dólar alto se torna um problema para quem viaja e para quem importa, porém é muito bom para quem exporta. Por outro lado, o dólar baixo equivale ao real valorizado e, nesse caso, os produtos brasileiros ficam mais caros para serem vendidos no exterior ou quando os contratos devem ser cumpridos os exportadores vão perder sua lucratividade em função da oscilação cambial. Ao suavizar a oscilação sem intervir no mercado, a política cambial podia sofrer pequenos ajustes ao longo do tempo, permitindo aos agentes do mercado fazer as adaptações de forma mais tranquila e sem grandes traumas.
 
Justificativas
O fundo foi criado em 2008 e chegou a contar com saldo de US$ 26,5 bilhões, porém com os crescentes déficits das contas públicas, o saldo estava em US$ 500 milhões. Os reflexos não demoraram a aparecer. A cotação do dólar, que estava em R$ 3,63 quando da extinção do fundo, em 21 de maio, chegou a R$ 3,90 no início de junho, para recuar a R$ 3,70 na mesma semana e, agora, está em torno de R$ 3,84. Esse aumento da volatilidade não pode ser considerado somente coincidência, porém, poucos se dedicam a estudar mais profundamente as razões. A regra parece ser a explicação rasa, óbvia e resumida. Assim os ‘pseudos’ colunistas econômicos justificam a alta de um dia devido a política americana, no outro dia o recuo é atribuído à balança comercial para no terceiro dia justificar a alta devido à guerra comercial com a China. Nada que possa ser aprofundado numa análise simplória de três linhas. Deve-se à falta de espaço.