Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Riqueza

O debate deve estar voltado para políticas públicas que favoreçam o acúmulo por meio de leis ou brechas jurídicas que permitam o enriquecimento repassando o custo para o público em geral.

Riqueza
Nesta semana voltou a ser assunto a fortuna dos denominados ‘ultrarricos’. Essa é a denominação para aqueles que possuem patrimônio superior a US$ 1 bilhão. O relatório é feito pela Oxfam, uma ONG britânica que busca soluções para a pobreza e diminuição da desigualdade social. Este é um ponto importante, pois no ‘penico digital’ falar desse assunto pode causar reações do tipo ‘vai para cuba’ de um lado ou ‘porco capitalista’ de outro. É a tendência ao reducionismo dos que não têm argumentos. Por isso é prudente esclarecer que o estudo tem origem na Inglaterra e não num país comunista (que por sinal existem poucos). Da mesma forma, a manchete diz que cinco bilionários têm patrimônio equivalente à renda da metade mais pobre da população – apesar de ser verdade, pode confundir e causar revolta pelos motivos errados.

Esclarecendo
Os conceitos de renda e patrimônio, apesar de estarem ligados, são totalmente diferentes. Alguém pode ter aumento de patrimônio sem ter a renda equivalente, um exemplo disso é quando alguém recebe uma herança, ou então ter criado um negócio que valoriza rapidamente. Outro ponto importante é lembrar que a pessoa conseguir fortuna de forma lícita, dependendo exclusivamente de seus méritos, não pode ser considerado crime. Ao contrário, deve ser admirado e, se possível, copiado. A lista dos cinco brasileiros mais ricos tem investidores, banqueiros e até o sócio do Facebook. O debate deve estar voltado para políticas públicas que favoreçam o acúmulo por meio de leis ou brechas jurídicas que permitam o enriquecimento repassando o custo para o público em geral. Exemplo disso é quando o governo perdoa tributos não arrecadados, isentando multas e juros, permitindo que alguns se favoreçam a custa dos demais. Outro exemplo é quando a tributação não incide sobre o patrimônio que está concentrado, mas sim sobre a renda ou consumo, o que prejudica a todos. 

Concentração
A concentração de riqueza tem aumentado no mundo todo. Segundo o relatório, 82% da riqueza gerada no último ano ficaram com a faixa de 1% dos mais ricos. No Brasil não é muito diferente, segundo o documento o número de bilionários mundiais no período de 2000 a 2017 aumentou de 322 para 2.043. No Brasil passou de nove para 43. Somente no último ano o Brasil ganhou 12 novos ‘ultrarricos’. O ponto relevante e um pouco mais profundo no relatório mostra que a pobreza diminuiu, mas a desigualdade permanece e aumentou em alguns casos. Isso significa que apesar da redução no contingente de pobres, estes não se beneficiam do aumento de riqueza. Desde 2010 a riqueza dos bilionários mundiais cresceu 11% ao ano, enquanto que os salários aumentaram em média 2%. Aí está uma das explicações para a desigualdade. No Brasil isso pode ser muito pior devido às diferenças estruturais, que envolvem a qualidade dos serviços, e as diferenças tributárias. Aqui, o imposto sobre herança chega ao máximo de 8%, enquanto que na sede da Oxfam pode atingir 40%. Isso faz com que os mais pobres gastem em torno de 32% da renda em tributos e os mais ricos gastem 21%. Quanto à diferença no retorno, não é preciso comentar.