Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Redes sociais e informação

As redes sociais estão alterando a comunicação entre as pessoas. Como toda mudança, teremos que conviver por algum tempo com muita bobagem que seria informação.

As redes sociais estão alterando a comunicação entre as pessoas. Como toda mudança, teremos que conviver por algum tempo com muita bobagem que seria informação. O lado bom é que é uma área de livre expressão; o lado ruim é que os desinformados e mal intencionados têm à disposição um amplo espaço para manifestações. Pessoas públicas vivem reclamando de falsos perfis utilizando indevidamente seus nomes e divulgando informações mentirosas. Empresas são atacadas com informações caluniosas, entre outros péssimos exemplos. Como é um terreno livre, cada um coloca o que quer mesmo que não tenha acontecido. Na maioria das vezes confundem boato com fato, suspeita com culpa e falsidade com verdade. É lamentável. Escrevo isso porque fui questionado sobre um assunto que circula por estas redes sobre a dívida brasileira.
Dívida
Como é comum nas redes sociais, a informação é curta, truncada e ilustrada com algumas pessoas públicas. A afirmação é que o Brasil está à beira de uma catástrofe porque a dívida aumentou de R$ 800 bilhões para R$ 2 trilhões, seguida de uma afirmação: “Eles mentiram, disseram que pagaram a dívida”. Com pequenas variações nos números e nas palavras, o conteúdo é o mesmo. A primeira questão diz respeito a qual dívida os remetentes se referem? A do governo federal ou a de todos os órgãos públicos? Pelos valores deve ser o que se chama de Dívida Bruta. O indicador mais utilizado é a dívida líquida do setor público, isso envolve União, Estados, municípios e estatais, portanto, a responsabilidade é compartilhada. A informação mais recente indica que ela está em R$ 1,5 trilhão. A segunda questão é avaliar se isso é muito ou pouco. Uma forma para isso é por meio da evolução. Entre 1994 e 2002 a dívida saiu de R$ 60 bilhões para R$ 892 bilhões, uma evolução de 1.386%. No período de 2002 a 2010 cresceu de R$ 892 bi para R$ 1,5 trilhão, crescimento de 68%. O fato é que ela aumentou em números absolutos, mas reduziu a velocidade do crescimento.
Comparação
Imagine que você vai se queixar com um amigo porque tem uma dívida de R$ 50 mil que está lhe preocupando, e ele lhe acalma com o argumento de que ele próprio deve R$ 100 mil e nem por isso está preocupado. Você ficaria tranquilo? Aparentemente a sua situação é melhor que a dele. Mas durante a conversa você descobre que seu amigo tem um salário de R$ 10 mil, enquanto que você ganha somente R$ 1 mil. Agora você tem um ponto de referência: a sua dívida é de 25 vezes a sua renda, enquanto que a do seu amigo é de 10 vezes a renda mensal. Dessa forma a sua dívida em relação à renda é mais que o dobro da dívida do seu amigo. Com os países ocorre o mesmo. A dívida deve ser comparada com o Produto Interno Bruto (PIB). Em 1998 a dívida era de 56% do PIB, hoje é de 34,8% do PIB. O que aconteceu com o Brasil é que pagamos a dívida externa, reduzindo a dependência da política cambial e das normas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a dívida interna aumentou em valores nominais e reduziu em valores relativos. Esses são os fatos. Avaliar se foi uma boa decisão, se atende aos interesses do país e outros aspectos é outra discussão.