Próximo ano
Gostaria que, por alguns segundos, tudo parasse e todos silenciassem. E nesse pequeno lapso de tempo, nesse silêncio universal, pudéssemos reavaliar o que aconteceu em nossas vidas nos últimos anos
Como sempre acontece nessa época em que um ano termina e outro inicia, as esperanças se renovam e nos dão força para retomar as atividades. Essa renovação faz com que esqueçamos, ou ao menos deixemos de lado, os fatos menos agradáveis e voltemos nossa atenção ao que de bom poderemos fazer no período que se inicia. Pensar em coisas boas que desejamos fazer, e que esperamos, se concretizem. Gostaria que, por alguns segundos, talvez um pouco mais, quem sabe alguns minutos, tudo parasse e todos silenciassem. E nesse pequeno lapso de tempo, nesse silêncio universal, pudéssemos reavaliar o que aconteceu em nossas vidas nos últimos anos: todos os equívocos que foram cometidos, os falsos profetas em que acreditamos, as pseudo notícias que divulgamos, os remédios ilusórios que acreditamos e propagandeamos, as ofensas que pronunciamos por motivos fúteis. E nessa avaliação tomássemos consciência dos prejuízos causados e dos males que podemos ter afligido. E que, ao retornar desse pequeno período de silêncio e reflexão, todos estivessem mais calmos, ponderados, reflexivos, pensativos e menos impulsivos.
A vida
Uma esperança renasce com o Natal, que é a celebração da vida. Um ano que finda e também traz esperanças, pois outro se inicia. Dois acontecimentos opostos: o nascimento do Salvador e, alguns dias depois, o final de mais um ano. Início e fim ligados por uma linha comum chamada esperança.
Acredito que seja o momento de celebrar a vida. Pensando no que dizer, me lembro de João Cabral de Melo Neto e resgato pequena parte de seu grandioso poema “Morte e Vida Severina”.
O retirante Severino, desiludido e com fome, se aproxima de um morador de um mocambo entre o cais e o rio, e questiona o valor da vida. Dentro da casa, uma senhora está em trabalho de parto. Após o nascimento, o pai do menino recém-nascido, responde assim às suas dúvidas:
“E não há melhor resposta
Que o espetáculo da vida:
Vê-la desfiar seu fio,
Que também se chama vida,
Ver a fábrica que ela mesma,
Teimosamente, se fabrica,
Vê-la brotar como há pouco
Em nova vida explodida;
Mesmo quando é assim pequena
A explosão, como a ocorrida;
Mesmo quando é uma explosão
Como a de há pouco, franzina;
Mesmo quando é a explosão
De uma vida severina”.
Um Natal com todas as alegrias do mundo. E um próximo ano renovador.