Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Protestos

Os acontecimentos recentes merecem uma reflexão sobre as decisões tomadas no passado e que são muito semelhantes as que estão sendo propostas no Brasil de agora

Por muito tempo o Chile foi um modelo de país para a América Latina. Ao menos no aspecto econômico. Era o exemplo mais próximo do Brasil de um país que deu certo usando de politicas liberais do tipo “privatizar tudo”. Ao menos é o que parecia até agora. Os acontecimentos recentes merecem uma reflexão sobre as decisões tomadas no passado e que são muito semelhantes as que estão sendo propostas no Brasil de agora. Nem tudo deu certo, mas nem por isso precisamos radicalizar e demonizar. O aconselhável seria aprender com os erros dos outros e procurar não repeti-los. Os protestos começaram com um aumento na passagem do metrô que passou de 800 para 830 pesos, aproximadamente R$ 4,73. Seria esse pequeno aumento o motivo para tanta revolta? Parece que isso foi apenas o estopim de insatisfações acumuladas ao longo do tempo. 

Desigualdade
Segundo relatórios de organismos internacionais o Chile é um país desigual. A parcela 1% mais rica detém 26,5% da riqueza, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2,1% da riqueza. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas do Chile metade dos trabalhadores recebe salário inferior a 400 mil pesos (R$ 2.280). Para efeito de comparação, no Brasil, 60% dos trabalhadores receberam salário de R$ 928 em 2018. Para os analistas locais, o aumento da passagem do metrô revelou que o transporte público é um dos mais caros do mundo considerando a renda média. A esse fator devem ser somados o aumento do custo da eletricidade, da água e a precariedade do sistema de saúde. 

País e povo
Olhados isoladamente, os índices macroeconômicos são de fazer inveja: o país cresce acima da média latino-americana, a 2,5%; o índice de desemprego é estável, em torno de 7% – graças a um mercado de trabalho flexível; e a dívida pública não ultrapassa os 25% do PIB. Como disse certa vez um Presidente da República o país vai bem, mas o povo vai mal. O aumento nos preços dos serviços prestados por empresas privadas foi aos poucos corroendo o orçamento doméstico, de tal forma que um aumento de 3,75% nas passagens deu inicio aos protestos que culminaram com violência. Acrescentemos a isso o baixo valor das aposentadorias. 

Aposentados
As mudanças no sistema de aposentadoria começaram a mostrar seus efeitos, porque começaram a se aposentar os primeiros trabalhadores desde que o novo sistema foi implantado. Os chilenos que pararam de trabalhar descobriram, com tristeza, que o sistema proposto não entrega os resultados prometidos. Estudo da Universidade de Brest, da França, revela que grande número de aposentados recebe 60% do salário mínimo. Depois dos protestos o governo cancelou o aumento dos transportes e também da eletricidade. Entre outras medidas promete aumentar as aposentadorias e pensões em 20% e subsidiar o aumento do salário mínimo. Novamente, o estado vai ter que intervir na economia. Algo que causa arrepios em qualquer economista liberal e privatizante. Como explicar?