Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Progresso e retrocesso

Tristes tempos esses, em que se revelam as qualidades dos seres humanos e temos o desprazer de ver pessoas com a cabeça no século passado

O progresso, longe de consistir em mudança, depende da capacidade de retenção. Quando a mudança é absoluta, não permanece coisa alguma a ser melhorada e nenhuma direção é estabelecida para um possível aperfeiçoamento; e quando a experiência não é retida, como acontece entre os selvagens, a infância é perpétua. Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Esse texto foi escrito por George Santayana, um filósofo, poeta e ensaísta espanhol e aparece em “A Vida da Razão”, publicado em 1905. Em qualquer aspecto da evolução isso pode ser observado. Seja no desempenho das empresas, na economia, no desenvolvimento tecnológico, só existe evolução porque o conhecimento adquirido permanece na memória e a partir desse registro ocorre o avanço. Tristes tempos esses, em que se revelam as qualidades dos seres humanos e temos o desprazer de ver pessoas com a cabeça no século passado.

Varíola 
Um ano antes das palavras do filósofo, a cidade do Rio de Janeiro foi palco da “mais terrível das revoltas populares da República”, segundo definição da imprensa da época. Por alguns dias, a cidade parecia um cenário de guerra com bondes tombados, trilhos arrancados e calçamentos destruídos. Os registros da época mostram que o conflito que durou oito dias deixou um saldo de 30 mortos, 110 feridos e cerca de 1000 detidos. A causa foi uma lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola. Um dos responsáveis pela lei foi o médico Oswaldo Cruz, nomeado como Chefe da Diretoria de Saúde Pública em 1903. Ao ser nomeado, fez uma declaração ousada: “Deem-me liberdade de ação e eu exterminarei a febre amarela dentro de três anos”. Promessa que foi cumprida. Em 1904, em torno de 3500 pessoas morreram de varíola. Em 1906, o número de óbitos foi reduzido para nove. Depois de alguns surtos esporádicos, a doença foi erradicada em todo o mundo.   

Nada novo
A vacina já tinha sido desenvolvida em 1797 por um médico inglês, depois de muitos aperfeiçoamentos, passou a ser produzida a partir do vírus da varíola bovina, esse foi o método importado da França. Mas tanto naquela época como hoje existem os especialistas em coisa nenhuma, por mais inacreditável que possa parecer foi formada a “Liga contra a vacina obrigatória” um dos slogans era “Morra a polícia. Abaixo a vacina”. Tanto naquele tempo como agora, existiam interesses ocultos que se juntaram aos revoltosos, alguns queriam implantar um governo militar (nenhuma novidade), outros queriam a volta da monarquia (naquele momento não seria surpresa considerando que alguns querem isso até hoje). Também houve a polarização. Se fosse a favor da vacina você era da situação, se fosse contra era da oposição. Nada diferente dos dias de hoje. 

Involução 
Passados 116 anos desse episódio. Quando achamos que evoluímos surge uma notícia que, inicialmente achei fosse uma brincadeira, mas pude ver que aconteceu realmente após assistir um vídeo. Um grupo de ruminantes foi à rua no Dia da Independência com faixas, cartazes e um slogan: “Não queremos a vacina. Temos cloroquina”. O pior é que  encontram seguidores. É só mais um exemplo, entre outros tantos, de que o país marcha firme e garbosamente rumo ao passado.