Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Privatizar

Olhar para o que é feito em outros países pode ser uma fonte de aprendizado.

O ministro da economia já se manifestou durante a campanha eleitoral que pretende privatizar muitas empresas estatais. Uma reflexão necessária é se de fato o país possuir estatais é bom ou ruim para a economia. Olhar para o que é feito em outros países pode ser uma fonte de aprendizado. Não há um modelo único de sucesso. Existem países em que as estatais são fundamentais para a economia, como Noruega e Cingapura, em outros elas estão presentes em pequeno número como nos Estados Unidos.  O modelo de Cingapura é elogiado por organizações como o Banco Mundial e a OCDE, e serve de inspiração para a China, país com o maior número de estatais do mundo (51.341). O Brasil tem 138 empresas federais.

Onde funciona
A participação do governo de Cingapura é realizado através de uma holding estatal que tem participação em 23 das maiores empresas do país, o que corresponde a 40% das empresas de capital aberto. Essa holding funciona como intermediário entre o governo e as empresas, reduzindo a influência política. Na Noruega, a maior empresa do país é a Statoil, empresa estatal de petróleo que adquiriu vários poços do pré-sal brasileiro. Parte da renda da empresa vai para um fundo soberano para ser aplicada em políticas sociais e pesquisa para quando o petróleo se esgotar.

Onde não funciona
Existem casos em que a privatização não funcionou. Um estudo da Transnational Insitute, baseada na Holanda, mostra que no período de 2000 a 2017 ocorreram 835 casos de “reestatização” de empresas dos mais diversos setores, desde geração e distribuição de energia na Alemanha até empresas de água e esgoto na França. Entre os principais problemas estão o descumprimento de investimentos previstos, queda na qualidade de serviço, falta de transparência e aumento de preços. Na França, a empresa de saneamento que atendia Paris foi reestatizada e passou a dar lucro. No Brasil, o maior exemplo é o setor de telecomunicações. Um estudo da União Internacional de telecomunicações (UIT), órgão ligado a ONU, mostra que a telefonia móvel do Brasil é uma das mais caras do mundo. A quebra do monopólio estatal ampliou o acesso aos telefones fixos e móveis, mas trouxe consigo a consequência do preço. São os dois lados da questão que devem ser avaliados.

Competência
Com base nesses exemplos, podemos observar que não existe um único modelo, assim como não podemos ser simplistas de que a iniciativa privada funciona melhor que a gestão pública. No fundo é uma questão de competência, o serviço privado necessita de leis reguladores e fiscalização eficaz, assim como a gestão pública deve ser competente e isenta de influências políticas. O mundo nos dá exemplos de como a falta de regulação pode ser nociva ao cidadão como aconteceu no caso Enron, nos Estados Unidos. Sobre a falta de competitividade da gestão estatal, podemos escolher exemplos próximos a nós.