Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Presos

Hoje somos o terceiro país em número total de presos, superados apenas pelos Estados Unidos e pela China.

Presos
“Se os governantes não construírem escolas em 20 anos, faltará dinheiro para construir presídios.” Proféticas palavras de Darcy Ribeiro, pronunciadas em 1982. Talvez tenha demorado um pouco mais. Mas esse tempo chegou. Levantamento divulgado pelo Ministério da Justiça é para deixar malucos os defensores da redução da idade penal. Os números falam por si, mas para aqueles que acreditam na solução mágica de aumentar a truculência é preciso explicar. No ano 2000 o Brasil tinha 137 pessoas presas para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2016 esse número passou para 352,6 detentos. Um aumento de 157%. Hoje somos o terceiro país em número total de presos, superados apenas pelos Estados Unidos e pela China. Surge a questão: aumentar o número de presos reduz a violência? Os dados mostram que não: em 2013 ocorreram 28 mortes violentas para cada 100 mil habitantes; em 2016 a taxa subiu para 30 mortes. Prender não resolve, mas vá explicar isso para eleitor do Bolsonaro. 

Presídios
Os dados recentes são ainda mais preocupantes. Em dois anos o número de detentos aumentou em mais de 100 mil, passando de 622 mil para 726 mil. Porém, o número de vagas permanece constante em 368 mil. O que significa que para cada 2 presos existem apenas uma vaga. Não construíram escolas e nem presídios. É preciso dobrar o número de presídios para abrigar os presos existentes. Como a capacidade máxima recomendada pela arquitetura prisional é de mil vagas por unidade, seria preciso construir um presídio novo por dia durante um ano para acabar com a superlotação. Os gastos previstos são de R$ 14 bilhões. Mesmo que houvesse vontade para realizar as obras, não há recursos, mas vá explicar isso para quem pensa que a solução é eleger presidente um deputado que apresentou dois projetos em 20 anos.

Quem são?
O que explica esse volume de presos? Segundo levantamento oficial, 40% deles são provisórios, o que significa que não foram condenados. Os dados históricos mostram que somente 8% dos assassinatos são resolvidos no Brasil e os condenados por homicídio representam apenas 11% do total. Quem são os demais? O censo prisional mostra que dois terços dos presos são pretos, pobres e periféricos, a famosa tríade ‘PPP’. E 28% estão presos por crimes relacionados a drogas. Alguns pensam que a solução é armar o cidadão. A maioria dos estudos não confirmam essa hipótese. Ao contrário, 90% dos levantamentos concluem que mais armas levam a mais crimes violentos. Estudos realizados pelo Ipea mostram que para cada 1% de jovens em idade escolar que estão fora da escola a taxa de homicídio aumenta em 2%. Segundo o Conselho Nacional da Justiça, um preso custa ao Estado R$ 29 mil por ano, enquanto que um estudante custa R$ 2 mil. Investir em educação sairia muito mais barato – para cada preso seria possível custear 14 estudantes. Mas como explicar isso para quem acha que a solução é um presidente que faz apologia da violência e acredita que a solução é todos andarem armados?