É com esse fiapo de esperança que me preparo para as comemorações natalinas

Talvez não haja muitas razões para desejar um Feliz Natal. Não foi fácil, ou melhor, não tem sido fácil. Mas chegamos até aqui e esse fato nos dará forças para enfrentar as dificuldades que ainda possam surgir. Não foi fácil, mas nessa hora precisamos resgatar um resto de otimismo mesmo que ele esteja oculto embaixo do entulho de acontecimentos bizarros que nos massacraram durante esse ano. É com esse fiapo de esperança que me preparo para as comemorações natalinas.

Pequemos  
Busco nos desvãos de tudo que passamos as coisas boas que aconteceram, e a memória revela eventos que abrandaram muitos dos nossos sofrimentos. Podemos dizer que pequenos milagres aconteceram. Os pais descobriram que conviver com os filhos pode nos trazer lições de vida mesmo que sob um aspecto distinto do que imaginavam. Os filhos descobriram que os livros dos pais podem ser úteis e trazem coisas maravilhosas que nem sempre estão disponíveis no ambiente digital. E o mais importante foi redescobrir em meio às restrições o prazer da convivência familiar, a volta do diálogo e da troca de experiências. 
 
Distância
E o que dizer da distância? Ela que muitas vezes é responsabilizada pelos amores esquecidos, pelas amizades que acabaram, não por algum acontecimento extremo, mas porque simplesmente foram silenciando e com o tempo, ficaram esquecidas, feito um objeto guardado que deixamos de utilizar e acabamos esquecendo onde foi guardado. A distância tem como consequência a saudade. Ela pode ser definida como um processo seletivo da memória. Sentimos saudade das coisas importantes que a distância e o tempo separaram de nós. Ela também permite alguns pequenos milagres, nos possibilita o descobrir de como a falta de pessoas queridas, e até as nem tanto, nos sensibiliza, lembrando que existir é tolerar, relevar e aceitar. 

Esperança
Talvez o maior dos milagres seja entender a importância da esperança, essa louca esperança, como disse Mario Quintana. Ela é a força que nos permite avançar pelos dias mais difíceis, acreditando que o outro dia será melhor. A esperança que impulsiona os miseráveis e consola os desvalidos. A esperança de voltar a encontrar os amigos e podermos falar do que passou. De conviver com nossos familiares, rever os amigos e, o mais importante, de voltarmos a arte do encontro. A esperança de que um dia trocaremos muitos abraços fraternos, que até então, a peste proibiu. Talvez nunca antes tenhamos um Natal em que necessitamos tanto da esperança. Mesmo à distância recebam um fraterno abraço de Feliz Natal.