Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

PDD e os comunistas

Quanta imaginação! Você acredita que a Coca-Cola, um ícone do capitalismo, iria usar um símbolo comunista?

Encontrei meu amigo PDD. Na verdade, ele me encontrou no estacionamento do supermercado, pois eu não o reconheceria dirigindo um Fiat Uno modelo 2005 com películas nos vidros e uma bandeira desbotada presa ao capô. Eu estranhei o seu silêncio durante todo o período eleitoral, mas me senti aliviado por não ter que debater com ele. Como sabem os meus 18 leitores, ele é um pouco ingênuo. Não. Ele é muito ingênuo. Para dar uma ideia disso, ao abrir a porta do carro e me chamar, a primeira coisa de que reclamou foi do preço da cerveja na Copa do Qatar. Só olhei para o carro com a pintura desbotada e perguntei: 
- Qual a razão de se preocupar com isso? Por acaso você vai para a Copa?
- Não. É que isso é sinal de comunismo. É um atentado ao livre comércio. Não podemos aceitar isso! O objetivo do nosso grupo é combater o comunismo em todas as formas. Qualquer sinal dos “vermelhos” será denunciado e combatido. 
- Desculpe, mas qual o seu grupo? 
- É um grupo do “zap zap” em que combinamos os nossos protestos, o objetivo é impedir a implantação do comunismo. A maioria não nota, mas aos poucos eles estão se infiltrando com mensagens ardilosas e quando a gente se der conta: “champete”, eles terão convencido todo Brasil que isso é o melhor para nós. 
- Eles devem ser bem eficientes, porque eu confesso que não notei nada disso. 
- Tá vendo. É isso que eles querem. Você que tem uma coluna no jornal não escreve sobre isso, é uma revolução silenciosa, astuta. Veja o caso do Papai Noel. 
- Desculpe. Realmente não entendi. O que tem o Papai Noel com o “objetivo” do teu grupo?
- Papai Noel faz parte do complô. Ele faz propaganda comunista de forma discreta. 
- Meu Deus? De onde vem isso? O que você anda bebendo?
- Vou te provar. Recebi aqui no meu grupo duas fotos comparando a figura do Papai Noel com Kal Marx e são iguais: Rosto redondo, rechonchudo, barba longa, ele é o Marx na versão “paz e amor”, mas não engana o meu grupo, não. Estamos atentos. 
- Quanta imaginação! Você acredita que a Coca-Cola, um ícone do capitalismo iria usar um símbolo comunista? Ou que fizeram isso sem saber o que representava? Só o seu grupo descobriu essas coisas? É sério?
- Mas é isso mesmo. E tem mais. Olha só: usa roupa vermelha que é a cor do comunismo. Distribui presentes para angariar a simpatia das crianças. É tudo manipulação. E ainda tem mais: Sabe o endereço das casas onde vai deixar os presentes, parece o serviço secreto dos países da cortina de ferro que sabiam tudo da vida das pessoas. E essa história de entrar nas casas? De certa forma está enviando uma mensagem de que invadir a casa dos outros não tem nada demais, está preparando o caminho para o Movimento dos Trabalhadores Sem Tetos, ou quem sabe, para que seja implantada a política de obrigar os que tem uma casa maior que 60 m² a abrigarem um sem teto.  
- Como é que é? Abrigar? Agora sim você me convenceu que precisa de tratamento médico. 
- Vocês estão cegos! Tem muito mais coisa acontecendo e as pessoas ainda não notaram. Veja a árvore de natal com aquela estrela em cima, é propaganda de um partido político, como ainda não notaram? Por que ninguém faz nada?
Foi tão forte o impacto que não lembro direito o que aconteceu. Acho que fiquei em estado de letargia. Apaguei. Sei lá. Quando dei por mim, estava de pé no estacionamento e meu amigo tinha ido embora. Fiquei pensando se tinha acontecido mesmo ou se, por algum momento, eu tinha sonhado.