Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Ouro

É um filme perfeito daqueles que passam a mensagem que basta ser dedicado e trabalhador para chegar aonde ela chegou.

Ouro
Um evento esportivo como a Olimpíada é um acontecimento que pode gerar surpresas. Até o momento a principal delas é o primeiro ouro. Tinha de vir de uma mulher. Mais que isso. De uma mulher negra, pobre e Silva. Rafaela Silva pode ser o roteiro perfeito de um filme: nascida pobre, começou a lutar quando criança num projeto social. Foi desclassificada em Londres, sofreu ataques racistas, retomou a carreira com a ajuda de uma voluntária e ganha o primeiro ouro olímpico dentro do seu próprio país. É um filme perfeito daqueles que passam a mensagem que basta ser dedicado e trabalhador para chegar aonde ela chegou. Quando na verdade é preciso mais, muito mais, para chegar a lugares aonde muitos chegam sem esforço algum. Mais que uma vencedora, Rafaela é uma sobrevivente de um país com sua política de manter pobres e proteger ricos, onde abundam a exclusão social, falta de segurança, a pobreza extrema e o racismo. 

ONG
Atleta da ONG Instituto Reação, iniciativa do medalhista olímpico Flávio Canto, Rafaela recebe a Bolsa Pódio, uma ajuda do governo federal para atletas com possibilidades de disputar finais e medalhas olímpicas. O que mostra a importância de um programa social. Ao ser desclassificada em Londres, procurou ajuda dos fãs na internet. Encontrou apenas ofensas racistas. Os comentários quase a fizeram desistir da carreira. Com a ajuda de uma psicóloga voluntária do Instituto Reação, começou a retomar o esporte. Em 2013 foi campeã mundial, em seguida a carreira declinou. Nas Olimpíadas, para manter a concentração, evitava entrar na internet antes da competição. No fundo, tinha medo de encontrar novamente as ofensas. 

Manifestação
Na sua manifestação ela fez muitos chorarem, alguns de emoção, muitos de orgulho e, pouco provável, uns poucos de vergonha. Será que os medíocres que utilizam a latrina digital se lembram das ofensas postadas? A primeira declaração veio com o choro: “O macaco que tinha que estar na jaula hoje é campeão”, declarou a menina que dormia em jornais num barraco inacabado na Cidade de Deus, mostrando que não esqueceu o que enfrentou. A família usava o pouco do dinheiro que sobrava para arrumar a casa onde vazava água pela laje toda, enquanto isso, os filhos se viravam como podiam e gestavam medalhas olímpicas. A família também mostra que não esqueceu, nas entrevistas utilizam a palavra macaca. Em seguida, choram. Eu choro junto. Não sei definir se é emoção da conquista, euforia do esporte, ou de vergonha pelo sofrimento que passaram. Com o esporte a judoca conseguiu ajudar o pai a comprar uma Kombi para fazer fretes. Quem pode garantir que a atleta terá uma vida melhor depois de passada a Olimpíada? Obterá mais respeito ou será novamente ‘a negrinha da medalha’? Com o prêmio pela medalha de ouro, ela pretende terminar o terraço da casa que ainda tem ferragens expostas. Questionada se queria mandar um recado aos detratores, foi altiva como só um campeão sabe ser: “Não tem recado, só tem a medalha no meu peito”. Uma medalha dourada, negra, pobre e Silva. Não poderia haver uma medalha mais brasileira.