Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Os 290 milhões

A conta é mais ou menos a seguinte: até o momento foram realizados pelo SUS 5 milhões de testes PCR, considerado o melhor de todos os testes

A conta é mais ou menos a seguinte: até o momento foram realizados pelo SUS 5 milhões de testes PCR, considerado o melhor de todos os testes. Mas descobriram outros 7 milhões de testes guardados num armazém do Ministério da Saúde. Na minha ingenuidade, achei que fosse prevenção: manter estoque de testes para serem aplicados se a pandemia avançar, ou se surgir algum foco maior em algum local remoto desse grande país. Mas a realidade é muito diferente, os testes perderão sua validade nos próximos dois meses. Uma parte em dezembro e outra parte em janeiro. O prejuízo pode chegar a 290 milhões de reais. Ao serem questionados os responsáveis responderam como sempre: transferindo a culpa para os outros. Os testes estão estocados no ministério da Saúde, mas a culpa é dos estados e municípios.

Suspeitas

Esse é só mais um exemplo de como as coisas (não) funcionam. O governo federal diz que sua parte é somente comprar, que a demanda deve vir dos estados e municípios. Estes, por sua vez, argumentam que o material fornecido é incompleto faltando os reagentes necessários para completar os testes. O ministério da saúde argumenta que os testes enviados totalizaram 8 milhões e nem todos foram usados, também prometeram adquirir mais insumos para completar os kits de testes, porém, adivinhem? O Tribunal de Contas da União (TCU) trancou a compra sob suspeita de irregularidades. Outro aspecto revelado é a distribuição sem critérios objetivos. Estados onde ocorreram surtos receberam poucos testes, enquanto estados onde a situação estava sob controle receberam um volume maior. A entrega dos reagentes também não tem muita lógica, um estado que recebeu 8% dos kits foi contemplado com 20% do volume de reagentes. Aqueles que defenderam os militares ocupando cargos no ministério da saúde devido a sua expertise em logística, devem estar decepcionados. Mais decepcionados do que quando abrimos um pote de sorvete e dentro dele encontramos feijão.

Teorias

Nesse jogo de empurra para um lado e outro uma coisa fica muito clara, sem uma liderança central a nível federal, estados e municípios usaram as estratégias que podiam ou que acharam mais adequadas. Essa pulverização de iniciativa por mais bem-intencionadas que possam ser, fatalmente resulta em desperdício de esforço e recursos, como também deixa frestas por onde os aproveitadores aproveitam para compras superfaturadas. As teorias de conspiração já estão nas ruas, cada um pode escolher a sua. Uma delas diz que os testes não foram distribuídos porque quanto maior o número de pessoas testadas, maiores seriam os números de contaminados, a solução seria não testar. Outra teoria diz que os governadores não testavam para aumentar o numero de infectados. Acredito que seja apenas incompetência.

Dúvidas

Onde andam os “fiscais” voluntários e patriotas do início da pandemia que invadiam hospitais, postos de saúde e outras estruturas sanitárias, às vezes com truculência, para mostrar as UTIS vazias e dizer que a pandemia não existia? Se tivessem fiscalizado os kits de testes poderiam ter evitado esse prejuízo.