Orçamento, intenção e gesto
Podemos dizer que há uma grande distância entre discurso e ação
Parafraseando uma música de Chico Buarque que diz “Se trago as mãos distantes do meu peito. É que há distância entre intenção e gesto”. Podemos dizer que há uma grande distância entre discurso e ação. No discurso, todos são favoráveis a melhorias na educação, na prática, nem tanto. No discurso todos são contrários ao aumento da verba do fundo eleitoral, também chamado de fundão, na prática votaram a favor. Todos são favoráveis à maior transparência, porém, deixam para votar no apagar das luzes do recesso, assim como se refugiam, arrumando desculpas para não dar entrevistas.
Verba
Às vezes não é uma questão de verba. Desculpe. Disse às vezes. Errado. Na maioria das vezes, melhor, na grande maioria das vezes, o problema não é a verba, é o verbo. É a vontade em fazer e a coragem de decidir. No caso do fundo partidário, no apagar das luzes, uma corja de Brasília aprovou um aumento de R$ 3,7 bilhões. Digo que é preciso vontade. Explico. Escrevi há algumas semanas sobre o corte de verba de R$ 3,5 bilhões que seriam destinados a melhorar a internet nas escolas públicas. Um projeto louvável e de grande relevância para o futuro das crianças. Pois essa verba foi vetada, o veto foi derrubado no Congresso, mérito para os parlamentares, mas, como pode “quebrar” o país, o Executivo recorreu para a Justiça. Na época comparei com as emendas parlamentares. Um mecanismo que atualizou o voto de cabresto. Praga política que infesta o panorama político feito nuvem de gafanhoto na lavoura. Pois a verba para a educação era de apenas 10% das emendas parlamentares. Agora, os parlamentares demonstram o seu verdadeiro interesse. O fundo partidário passou de R$ 2 bilhões para R$ 5,7 bilhões.
Sou contra, mas...
Não sei definir se é farsa ou tragédia o que aconteceu após a aprovação. Alguns políticos se apressaram a explicar o voto. Teve um que se intitula empresário do setor de comunicação que fez uma transmissão logo depois da sessão dirigindo o carro, justificando a necessidade de aprovar uma lei maior em que estava incluído o “fundão”. Nos dias que se seguiram, as desculpas mais absurdas foram utilizadas: votou a favor, mas queriam votar em separado o “fundão”. Aqueles que votaram contra, fizeram jogo político, pois sabiam que seria aprovada. A lei de diretrizes orçamentárias (LDO) tinha que ser aprovada para o país funcionar. Algumas meias verdades e outras mentiras inteiras. Como é óbvio, tudo sendo regurgitado, repetido e compartilhado pelos animais amestrados das redes digitais.
Origem
Neste momento, o principal questionamento é de quem foi a ideia de propor esse aumento que é o relator da lei, personagem importante neste evento. Foi obra de um único autor? Ou o grupo de parlamentares que ele representa participou da decisão? Qual foi a justificativa? Quem ele representa para ter colocado esse valor? O que diz o grupo a que ele pertence? Seria o relator um deputado de oposição querendo boicotar as eleições? Desculpem a ironia, mas se é para ouvir desculpas sem lógica prefiro as ironias do tipo: votei a favor, mas sou contra. Votei sem querer. Votei a favor da LDO, mas não sabia do “fundão”. Votei sem ver. Votei sem ler. Entre outras idiotices.