Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

O visitante

Uma nave estranha pousa na praça da cidade. – Somos do planeta Zuka, estamos em deslocamento para outra galáxia e ouvimos o seu pedido de SOS

Uma nave estranha pousa na praça da cidade. Não tem o formato de um disco, como geralmente está no imaginário popular para descrever extraterrestres. Mas é estranho, não se parece com os aviões ou outros artefatos conhecidos. Um grupo começa a se aproximar da nave, inicialmente desconfiado, tentando entender o que seria aquilo, ninguém se atreve a encostar naquele objeto estranho. No meio do grupo começam a se ouvir sussurros: “Será que nossas preces foram atendidas?”, “Será que começou a intervenção?”, “Não tem marcas de identificação”. 
Aos poucos o volume da conversa aumenta. O que era um sussurro vai se transformando em uma algazarra, com todos falando ao mesmo tempo, até que alguém grita: “Viva! A intervenção começou!”. Isso deu início a uma comoção geral, com gritos, abraços, uns se ajoelhavam e rezavam para a estranha nave, outros levantavam as mãos para o céu em sinal de agradecimento. 
Da nave sai um robô, chama a atenção o seu formato incomum: é quadrado como se fossem duas caixas, uma sobre a outra, e se movimentava de forma esquisita, parecia que mancava. Com uma voz metálica falou:
– Somos do planeta Zuka, estamos em deslocamento para outra galáxia e ouvimos o seu pedido de SOS. O que desejam? 
O povo, mantendo uma certa distância, começa a falar de forma atabalhoada, todos ao mesmo tempo: “Intervenção”, “Um novo governo”, “Uma nova eleição”, “Fechamento do STF”, “Fechamento do Congresso”, “Fim das urnas eletrônicas”. 
O visitante ficou um pouco perturbado, mostrava dificuldade de processar tantos pedidos ao mesmo tempo. Soltou um forte zumbido que fez todos se calarem. 
– Zzzz... entendi “intervenção” e “novo governo”, o restante ficou um pouco confuso, mas se desejam nossa intervenção para estabelecer um novo governo, assim o faremos, mas...
Aplausos, gritos, palmas, vivas, algumas preces....
– ...mas será de acordo com as leis zukati – continuou ele. 
Silêncio... Até que alguém pergunta: Pode nos dizer como funciona?
– Primeiro iremos acabar com as urnas...
Palmas e gritos, alguns juram que ouviram mais orações e gritos de louvores.  
– Zzzzz... Porque no nosso país não há eleições – continuou.  
– Como assim? E quem governa? Como são escolhidos os governantes? As perguntas surgiam de todos os lados. 
– No nosso sistema, zzzzz, um grupo de notáveis escolhe o governante. 
– E se alguém não concordar com essa escolha, o que pode fazer?
– Isso não acontece há milênios, zzzzzz, os últimos que contestaram foram levados para um retiro espiritual e nunca mais voltaram. 
– Mas e se o povo quiser se manifestar, como faz?
– Não faz. Não são permitidas manifestações públicas. Eles podem enviar um formulário eletrônico com as suas ponderações. 
– E isso alterou alguma coisa?
– Não se sabe, zzzzzzz, o conselho de notáveis não divulga as reclamações. Só informa que todas foram analisadas. 
– Olha seu Zuka, acho que foi um engano. Não era essa nossa intenção, mas, mesmo assim, obrigado pela ajuda. 
– Não pode ser engano. Zzzzzzzz. Está nos registros um pedido de SOS vindo de vários equipamentos eletrônicos, é um pedido de socorro. 
– Desculpe pelo transtorno. Mas não é isso. Nós somos da “Sociedade Observadora do Sol”, a sigla é SOS. 
– Se vocês dizem isso, por mim tudo bem. Vou embora. Zzzzz, zzzzzz. 
Fechou a nave e partiu, mas ficou com uma dúvida, como observar o sol a noite? E depois pensou: como tem maluco nesse universo.