Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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O vírus das finanças

Enquanto o Brasil sambava ao som dos tamborins, os mercados mundiais começam a se apavorar com o Coronavírus

Como era esperado, a quarta-feira de cinzas representou mais que o fim do carnaval. O fim da festa pagã trouxe consigo a queda na bolsa de valores e na desvalorização do real frente ao dólar. Esse movimento era a previsão mais fácil de fazer. Enquanto o Brasil sambava ao som dos tamborins, os mercados mundiais começam a se apavorar com o Coronavírus, e os seus reflexos se fazem sentir no mercado financeiro. Até a terça-feira, dia 25, as principais bolsas do mundo registravam perdas significativas. A bolsa de Milão acumulava queda de 6,6% em Londres recuo de 5,3% e na Alemanha 5,8%. No Japão, onde foi feriado na segunda, na abertura da terça-feira a queda foi 3,34%. Qual a relação disso com o Brasil? O mundo está todo conectado e o que acontece nos afeta também, mesmo que seja com diferente intensidade. 

Reflexos
Primeiro temos que pensar porque as bolsas caem. Com o vírus, muitos negócios estão sendo cancelados. O efeito inicia com o cancelamento de viagem, depois a suspensão de feiras de negócios, e assim inicia uma corrente que terá como efeito final a redução da atividade comercial em todo o mundo. A notícia de que uma fábrica da Samsung, na China, está fechada e não tem data para reabrir, contamina todo o mercado eletrônico. Esse efeito irá se refletir no volume de negócios e, consequentemente, no lucro menor, ou talvez prejuízo, em muitas empresas. O mercado financeiro por ser como um animal arisco, foge ao primeiro sinal de perigo. É isso que está acontecendo. Os ativos de maiores riscos estão sendo liquidados. O mercado financeiro está preocupado com o aumento do número de casos que começam a surgir em todo o mundo. O que antes estava restrito a alguns países da Ásia e Europa, começa a se espalhar pelo mundo. A cada dia surgem novos casos em lugares diferentes, o que fez com que a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgasse um alerta de uma nova pandemia. 

Previsão fácil
A bolsa não caiu porque o Brasil teve o primeiro caso confirmado, como alguns noticiaram. A bolsa caiu porque enquanto o mercado estava fechado, algumas das grandes empresas brasileiras, que tem seus papéis negociados em bolsas estrangeiras, principalmente em Nova York, em forma de ADRs (American Depositary receipts), uma espécie de recibo que representa as ações das empresas, tiveram forte queda no exterior. Os papéis da Petrobrás caíram 8,2% e a Vale teve uma queda de 8,5%. A mecânica do mercado indicava que quando a bolsa brasileira voltasse a funcionar esses papéis e os de outras empresas teriam um reajuste na mesma proporção. É quase automático. Caso isso não ocorra, o investidor poderia fazer uma operação de arbitragem que consiste em obter ganhos operando em diferentes mercados devido a distorção nos preços. Nesse caso, ele teria que vender as ações por um valor maior no mercado nacional e comprar o mesmo papel por um preço mais barato no mercado estrangeiro. Com isso obteria lucro com a diferença nos preços. A venda dos papéis no mercado doméstico forçará os preços para baixo, enquanto o aumento de ordens de compra do mesmo ativo no mercado estrangeiro levará os preços para cima até que os dois mercados irão se equivaler. Esse ajuste era a previsão mais fácil de fazer.