Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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O mundo endividado

Temos que considerar que o mundo enfrenta uma estagnação econômica que está afetando a maioria dos países há sete anos

Conforme propalaram alguns telejornais, o Brasil aumentou a dívida pública em 2015 em 66,2%. “Uma evolução recorde”, fala com voz empostada o locutor, como quem anuncia uma ocorrência trágica. Apesar de preocupar e justificar alguns cuidados, não é uma situação calamitosa como apontam alguns especialistas. A análise fica prejudicada quando feita fora do contexto. Temos que considerar que o mundo enfrenta uma estagnação econômica que está afetando a maioria dos países há sete anos. Segundo analistas americanos, é a recuperação mais longa da história do país. Outro aspecto é a comparação do Brasil com os demais países.
Contexto
Segundo estudo do World Economic Outlook, entre 2007 e 2014, um intervalo de tempo que considera um ano antes da crise, a dívida total dos países no PIB mundial aumentou 17 pontos percentuais. Entre as principais economias, a Espanha teve a maior variação com 92%, seguida do Japão com 63% e Reino Unido com 50%. A economia americana aumentou a sua dívida em 35%, enquanto que o Brasil avançou 3%. Mesmo que as manchetes digam que é maior déficit desde 1997, quando colocadas dentro do contexto mundial podemos ver que temos que nos preocupar, porém, não é um desastre como alguns apregoam.
Populismo
Outro aspecto é a versão distorcida de que o déficit é decorrente das políticas populistas do governo. Os gastos com o Bolsa Família em 2015 foram de aproximados R$ 27 bilhões, enquanto que os gastos com juros foram de R$ 501 bilhões, ou o equivalente a 18 anos do programa. Outra comparação, ausente nas análises, é a relação entre os juros pagos e os demais gastos. Por exemplo: somados, os gastos com educação e saúde representam apenas 20% do valor pago de juros. O déficit da Previdência é um problema, pois bem, o valor pago de juros é 5 vezes maior. O discurso padrão é atribuir os gastos sociais como os culpados pelos problemas econômicos. É o equivalente a culpar os passageiros pela queda de um avião.
Preocupação
O que deve ser motivo de preocupação é a velocidade com que os indicadores se alteraram. O déficit primário aumentou em 3 vezes de um ano para outro. A relação dívida/PIB cresceu 9% no mesmo período. Muitos criticam que optar pela austeridade numa economia estagnada é um erro. Quebrar esse ciclo vicioso de uma política que já não traz resultados é o grande desafio. Como disse o Nobel de Economia Paul Krugman, o problema do Brasil é que os economistas estudaram nos Estados Unidos e querem aplicar uma política que funcionou naquele país há 30 anos. O cenário é diferente e se revela cada vez mais desafiador. No entanto, insistimos em usar os mesmos remédios que não fazem efeito.