Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Lições

A lista de parlamentares investigados na operação Lava Jato tem 94 políticos de cinco partidos, e se formos olhar as demais operações será que sobra alguém?

Lições
As manifestações do último domingo deixam, ao menos para mim, algumas lições. A primeira delas é que sabemos nos manifestar pacificamente. Não houve depredações, nem invasões de lojas ou outros estabelecimentos. A segunda lição é que não se viu, ou a TV não mostrou, faixas contra Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer e grande elenco, todos envolvidos e denunciados em vários processos. Em São Paulo ocorreu a maior concentração de pessoas na mesma semana que surgiu o escândalo dos desvios da verba da merenda escolar. Podemos acrescentar os crimes apurados no Exterior, com vários presos, no Exterior, mas com investigações paradas no Brasil. Não causa indignação desviar merenda escolar? Pelas faixas dos manifestantes paulistas, não.
Também não se viu em Minas Gerais protestos contra a morosidade da Justiça em julgar o ‘mensalão tucano’, onde dois acusados se livraram da Justiça por prescrição. Alguém pode argumentar que os protestos focam onde estão os maiores casos. Pode ser ou seria a maior publicidade? Fosse a corrupção gerada por um único partido, ou um governante, a solução seria fácil. Trocamos o governante e está tudo resolvido.
Lembremo-nos do governo Collor, onde se puniu os corruptos sem os corruptores. Perdemos quase 30 anos nessa batalha. Decorre disso a terceira lição. Enquanto não houver uma mudança profunda e radical na forma de fazer política, continuaremos, de acordo com o ditado popular, mudando somente as moscas. Alguns acreditam que o parlamentarismo seria a solução. Tenho minhas dúvidas. Em quem poderíamos confiar para fazer essa reforma? Apenas como exemplo, a lista de parlamentares investigados na operação Lava Jato tem 94 políticos de cinco partidos (PMDB, PP, PTB, PT, PSDB). Se formos olhar as demais operações (Zelotes, Acrônimo, etc) será que sobra alguém?

Preocupante
A última lição é a mais preocupante. Os políticos que tentaram participar (surfar?) nas manifestações foram xingados e tiveram que fugir. Numa democracia a política, bem ou mal, é feita por meio de partidos políticos. Quando uma manifestação não tem identificação com algum bloco político podemos estar perto da ruptura democrática e isso não será bom para ninguém. É só olhar a história. O ‘quanto pior melhor’ geralmente termina numa ditadura ou num ‘messias político’. As duas opções são péssimas.

Percepção
A percepção geral é de que a corrupção aumentou. Ou será que aumentou a investigação? Pesquisei alguns números. Até 2003 a Justiça Federal tinha somente 100 varas em todo o país; atualmente são 513, um crescimento de 413%. A Polícia Federal realizou 48 operações de 1994 a 2002, uma média de seis operações anuais. Não consta no site da PF o número de presos. De 2003 até 2015 foram realizadas 2.738 operações, uma média de 210 operações anuais, um crescimento de 3.400%.
A pergunta é inevitável: o que aumentou mesmo? A corrupção ou a investigação? Somente em 2015 foram realizadas 512 operações com 2.451 prisões. O número surpreendente é a prisão de 198 servidores públicos somente em 2015. Ainda há muito por fazer.