Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Justificativas

Um vilão que possa ser o culpado de todos os males, serve de distração para os demais problemas

Historicamente, governantes buscam um inimigo de forma que ele se torne um ponto de referência, não necessariamente é algo a ser combatido, e, muitas vezes, não há interesse que ele seja vencido, na maioria das vezes ele tem mais utilidade com sua presença usada para unir um lado contra outro. Por isso, é importante que o inimigo continue existindo, para que seja sempre invocado em caso de necessidade. Esse fenômeno ocorre nas democracias, mas ele é mais frequente nas ditaduras, não importando a opção política. Um vilão que possa ser o culpado de todos os males, serve de distração para os demais problemas e fornece uma explicação para tudo. Para os adeptos do debate raso feito pires de chá, fornece a justificativa simplória e que não necessita de raciocínio. Os exemplos estão disponíveis, mas muitos insistem em não enxergar. Hitler criou a narrativa de que os judeus eram os culpados por todos os males da Alemanha, inclusive a derrota na primeira Guerra Mundial. Com esse argumento, os governantes foram poupados, nenhum erro poderia ser imputado a eles, a culpa era dos traidores. Simples e prático. 


Pós-guerra 
O mundo pós segunda Guerra Mundial foi dividido em dois blocos: os comunistas e os demais. A existência de uma conspiração para dominar o mundo serviu de justificativa para as mais diversas barbaridades. Tudo podia e deveria ser feito para livrar o mundo dessa ameaça que tinha contaminado parte da Europa e ameaçava se espalhar pelo mundo. Com o devido patrocínio de alguns países ricos, os demais países periféricos optavam para implantar uma ditadura de direita, geralmente com o uso do exército. Para fugir de uma ditadura comunista valia tudo: rasgar constituição, matar, torturar, mentir, enganar e o que mais fosse necessário para impedir que o comunismo vencesse. Democracia? Isso tinha que esperar até a ameaça comunista passar. Do lado comunista, a ameaça capitalista era de alguns se apropriarem dos meios de produção e com isso esses privilegiados iriam concentrar a riqueza impedindo que o povo trabalhador tivesse ascensão social e fosse dono do seu destino. Para isso, se cometiam as mesmas barbaridades do outro lado. Passou o tempo, hoje o comunismo está consumindo energéticos com vodca, chicletes, ouvindo rap e dançando rock. É necessário arrumar outro inimigo. 


Quintal
A prática continua em vigor. Olhando para o nosso quintal é possível observar que a inoperância governamental é sempre colocada na responsabilidade dos outros. Lamentável é ver a narrativa sendo aceita e defendida. Uma delas é de que o STF não permitiu que o Governo Federal atuasse na pandemia, mesmo desmentida, ainda é repetida e aceita como verdade em alguns grupos. Outra desculpa é que as reformas não foram realizadas por culpa do Legislativo, personalizado principalmente nas suas lideranças. O que também não condiz com a realidade, vários projetos foram aprovados e alguns bastante complexos, como a Reforma Trabalhista. Pois, agora, esse entrave foi resolvido. A união com o “centrão” gerou a maioria que o governo tanto deseja, turbinados com a liberação de verbas e promessas de cargos, conseguiram colocar nas lideranças das Casas Legislativas seus apadrinhados. O que será que vem mais rápido, as propostas de reformas ou uma nova desculpa, elegendo um novo “inimigo”?