Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Juros e câmbio

O mercado financeiro está fazendo as suas apostas em relação à próxima reunião do Conselho de Politica Monetária

O mercado financeiro está fazendo as suas apostas em relação à próxima reunião do Copom (Conselho de Politica Monetária) que acontece na terça-feira, dia 16. Nesse momento, a maioria aposta em aumento da taxa de juros de 2% para 2,25%, conforme a sinalização conservadora das últimas decisões. Mas há um grande número de apostas num aumento de 0,5. As razões para esse aumento já vinham da última reunião, mas agora ela se torna mais impositiva com a pressão inflacionária vinda do preço das commodities agrícolas influenciadas pelo câmbio. Nos próximos meses, essa pressão deverá aumentar como reflexo dos aumentos nos preços dos combustíveis que, feito injeção na veia, vão espalhar seus efeitos nos demais meios de produção. Isso exigirá de alguns setores maior esforço, seja para respirar, ou para manter os preços.
  
Batalhas
As autoridades estão no meio de duas batalhas relacionadas, mas que estão sendo travadas em campos diferentes. De um lado, a inflação, e de outro, o câmbio. Um ano atrás, no dia 5 de março de 2020, a cotação do dólar atingiu R$ 4,65 e o ministro da Economia afirmou que a cotação atingiria R$ 5 se fossem feitas muitas besteiras. Passados 12 meses, o dólar disparou, com alta aproximada de 22%, o que concede à moeda brasileira o título nada honroso de a mais desvalorizada entres os países emergentes. O Banco Central tem feito algumas ações para conter a pressão de alta, mas as medidas são de curto prazo e equivalem a enxugar gelo com toalha de flanela, curta. O mecanismo de swap cambial alivia a pressão momentaneamente, mas em seguida a alta pode voltar, causada por um espirro qualquer num canto político do país. Essas intervenções já custaram R$ 31 bilhões esse ano, e os efeitos estão aí. A cotação atingiu R$ 5,70 e uma pergunta surge: quantas besteiras terão que ser feitas para a cotação chegar a R$ 6?

Atuação
A favor da autoridade econômica, temos que considerar a mudança do cenário. Com o surgimento da pandemia, as prioridades mudaram, se concentrando em auxilio emergencial, manutenção de empresas e empregos. Também devem ser considerados a demora em propor as reformas prometidas, principalmente a questão tributária e administrativa. Estamos em março e o orçamento para o ano de 2021 ainda não foi aprovado, isso causa desconfiança nos investidores. Conforme estudo publicado por um ex-ministro da Fazenda, a alta de juros deverá começar em breve, porém, “deverá ter pouco ou nenhum efeito sobre o real”, conforme o relatório. A valorização do real só ocorrerá com uma consolidação fiscal, o que ainda está longe de acontecer. 

Efeitos
Para aqueles que acreditam que o dólar só afeta quem viaja ou para importadores, tentarei exemplificar como isso afeta os preços. Um dos efeitos é sobre insumos importados que aumentam o custo em real. Outro efeito é sobre produtos exportados, exemplo disso é o arroz. Com o dólar valorizado, é mais atrativo para o produtor exportar o produto ao invés de destinar ao mercado interno, com a redução da oferta o preço aumenta, afetando a toda a população. Esse mesmo raciocínio pode ser feito para o óleo de soja, para o açúcar, milho e outros produtos com cotação no mercado internacional. Ao efeito geral se dá a denominação de inflação.