Um passarinho me contou que minha tia Laurinda foi assunto muito debatido no esgoto digital que chamam de “redes sociais”

Um passarinho me contou que minha tia Laurinda foi assunto muito debatido no esgoto digital que chamam de “redes sociais”. Não tenho certeza se o que acontece em alguns ambientes pode ser chamado de debate, assim como, a denominação de “social” não é a melhor definição para o relacionamento entre os participantes. De qualquer forma, meu amigo emplumado me informou que a tia Laurinda, em duas semanas, já foi julgada e condenada no STF (Supremo Tribunal do Facebook). Não fosse um dos meus 17 leitores pedir calma, ela seria linchada pela MDO (Milícia Digital Oficial).

Defensores

Nesse ponto pedi que me explicasse o que é a MDO, e meu amigo me explicou que são os defensores oficiais, é um grupo composto de esposas de ocupantes de cargos de confiança, filhos ou filhas que arrumaram um “carguinho” público, assessores, parentes, entre outros espécimes apreciadores de recursos públicos. Segundo eles, a obra não está parada, não faltou banheiro, não faltou vestiário, não houve desmoronamento, não houve embargo, Elvis não morreu e a terra é plana. A obra está em andamento e em fase final de conclusão, qualquer um pode observar isso, quem não enxerga é porque está de má vontade.

PDD decepcionado

Depois de muito tempo encontrei meu amigo PDD. Meus leitores devem lembrar dele, tem duas atividades, um emprego formal e motorista de aplicativo. Se considera um cara de sorte por ter um carro popular que ajude na renda mensal, e acredita firmemente que pertence à classe média. Já se manifestou contrário a tributação de grandes fortunas porque acredita que isso é o primeiro passo para o socialismo. Como o assunto voltou ao debate recente pensei que era sobre isso que gostaria de falar comigo. Enquanto caminhava em minha direção, me preparei mentalmente para acalmá-lo com os dados oficiais: os super ricos são em torno de 20 mil pessoas com um valor patrimonial médio de R$ 150 milhões, e ele com seu Uno 95, emprego e renda do aplicativo está muito distante de tal condição. Me enganei. Ele me relatou que estava decepcionado com o atual governo federal, que não cumpriu as promessas de campanha. Achei muito estranho e pedi que me desse mais detalhes. 
- Olha só, uma das promessas na campanha foi a de que quem tivesse uma casa com mais de três quartos deveria ceder um deles para abrigar um refugiado venezuelano. 
- Nunca ouvi isso. De onde saiu essa informação?
- De um dos meus grupos de Zap zap, mas não quero discutir isso, eu acreditei e me preparei para isso. 
- Eu nem sabia que tua casa tinha mais que três quartos, você está bem, hein?
- E não tem, só tem dois. Mas me preparei para ganhar um dinheiro extra nos finais de semana fazendo reformas nas casas. Pensei que haveria muitas pessoas, teriam que fazer reformas, seja para receber os refugiados, ou então para fazer uma entrada separada, ou ainda, tirar paredes para reduzir o número de peças. Outro nicho de mercado seria reformar os banheiros, já que seriam usados por ambos os sexos. Me preparei, fiz cursos, comprei ferramentas e até agora nada. Quando você acha que vão entrar em vigor estas medidas? 
- Nem sei o que dizer, nunca ouvi falar disso, ao menos seriamente. Só em forma de boato, piadas ou alguma brincadeira. Mas como plano de campanha, sinto muito, nunca ouvi. 
- Mas nos grupos davam isso como uma medida certa de um determinado candidato. 
- Mas eu tenho uma sugestão para você. Parece que as obras de ampliação do posto de saúde estão indo a pleno vapor, talvez precisem de novos trabalhadores. Quem sabe você oferece seus serviços?