Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Inflação

O que está acontecendo com a Argentina explica o comportamento do brasileiro no que diz respeito à poupança de longo prazo.

Aprender com o passado é a melhor forma de não repetir os mesmo erros. O que está acontecendo com a Argentina explica o comportamento do brasileiro no que diz respeito à poupança de longo prazo. Vários estudos mostram que o brasileiro não tem o hábito de planejar para prazos longos. Os argentinos tinham esse hábito, que está mudando. O país fez diversas tentativas de controlar preços, alguns ainda devem lembrar quando o peso era atrelado ao dólar na década de 1990, o que fez com que o país tivesse deflação e vivesse um período de opulência. Quando esse plano acabou, junto com a crise econômica vieram turbulências políticas no período de 2001 e 2002. A partir daí, com exceção de pequenos intervalos, a inflação nunca foi controlada. Para agravar ainda mais a situação, a partir de 2007 alteraram a metodologia de cálculo, o que causa problemas até hoje. A inflação oficial do período de 2007 a 2015 foi de 140%, porém, cálculos de outros institutos (que estavam proibidos de divulgar) estimam que ela foi superior a 400%.

Juros
O atual governo, ao assumir, desvalorizou fortemente o peso. O que começou a pressionar a inflação que neste período estava em torno de 25% ao ano. Numa tentativa de controle, adotou o sistema de metas de inflação semelhante ao que é feito no Brasil. Ao perceber que elas não seriam cumpridas desistiu desse sistema. No ano passado, a inflação foi de 47,6% – a mais alta dos últimos anos –, e aproximadamente 10 vezes maior que a inflação brasileira. Na tentativa de conter a escalada dos preços, os juros chegaram a atingir 70% no ano passado – atualmente estão em torno de 50%. Todos esses problemas levaram o país a solicitar um empréstimo recorde de 57 bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Efeitos
Com a economia voltando a estar fortemente atrelada ao dólar, a expectativa de inflação para este ano está em torno de 30%, gerando desconfianças. Com um histórico permanente de inflação alta, desvalorização da moeda e crises políticas, o resultado nos consumidores é um comportamento de desalento e desconfiança sobre o hábito de poupar para o futuro. Depoimento de uma escritora a BBC ilustra esse fato: quando ela tinha 10 anos o pai depositou o dinheiro da venda de um apartamento, quinze anos depois quando foi sacar o dinheiro dava para comprar apenas duas bicicletas. Como passar para os descendentes a cultura de poupar com base nessas experiências? Um hábito antigo de comprar imóvel como prevenção contra a inflação também resultou em problemas. Um programa governamental de financiamento de imóveis foi adotado como bandeira de governo, hoje os que aderiram observam que as prestações estão subindo mais que o salário, o que gera um alto nível de inadimplência e movimentos populares para a devolução dos imóveis. Por isso a opção da maioria dos governos de sacrificar o crescimento econômico, se necessário, para manter os preços sob controle para evitar o descontrole inflacionário.