Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Incentivos e reflexos

No Brasil, o que causa estranheza é que nem copiar os exemplos bem-sucedidos somos capazes

No Brasil, a ciência é desprezada. Até aí nenhuma novidade. O que causa estranheza é que nem copiar os exemplos bem-sucedidos somos capazes. E não falamos somente de saúde, mas no campo econômico essa insistência em copiar ideias antigas se mostra cada vez mais presente. Esta semana os Estados Unidos aprovaram um novo pacote de estímulo ao crescimento econômico com recursos públicos. Enquanto isso, no Brasil se discute o teto de gastos. No auge da pandemia, o governo americano gastou 3 trilhões de dólares em recursos, o que equivalia a 15% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto no Brasil, por força do Congresso, gastamos 550 bilhões de reais, o que equivale a 7,5% do PIB. Os cálculos demonstram que esse gasto impediu que o PIB brasileiro encolhesse em aproximadamente 10% e o resultado ficou na queda de 4,1%. Numa conta simples, deixamos de perder 500 bilhões. Enquanto no Brasil insistimos em Cloroquina, o governo americano fechava contratos de vacina antes da troca de presidentes. Os resultados não acontecem por acaso.

Novo Plano
Aprovado pelo Congresso americano, o novo plano de incentivo vai injetar na economia valores estimados de 1,9 trilhão de dólares. Assim, os gastos com a pandemia chegam a quase 4 trilhões e podem chegar a 6 trilhões de dólares, o equivalente a 30% do PIB se o plano de emprego do novo presidente for aprovado. Acima do volume histórico dos gastos, os projetos demonstram uma mudança nos conceitos teóricos e na política econômica. É a retomada de algumas ideias Keynesianas usadas para superar a grande depressão, colocando o Estado como indutor da expansão econômica. Mas de onde virão esses recursos? O projeto conta com a elevação da arrecadação com o crescimento econômico e propõe aumento de impostos para empresas e pessoas mais ricas. Aumentar impostos dos ricos? Vai ter quem afirme que os americanos viraram comunistas. 

Aqui
Esse projeto americano está colocando algumas dúvidas nos economistas liberais defensores do equilíbrio fiscal. A ideia por aqui é que o corte nos gastos públicos resultaria no aumento da confiança dos empresários e investidores, o que traria a retomada dos investimentos, a geração de empregos e a expansão da economia. Porém, depois de mais de uma década de baixo crescimento em grande parte do mundo, seus próprios autores relativizam os resultados imaginados desses programas. Aqui foi implantado um teto de gastos que parece ser o santo graal de toda a política econômica. Uma pergunta se impõe: Seria possível um programa brasileiro nos mesmos moldes do projeto americano? Na situação atual, a resposta é um grande, um enorme, não. Os motivos principais estão nos marcos regulatórios vigentes que estabelecem a restrição de gastos. Acrescentemos um sistema tributário onde quem tem mais renda contribui menos e temos os dois principais obstáculos a serem superados. 

Mudar
Seria possível alterar a legislação para superar esses obstáculos. Talvez, mas quem está disposto a enfrentar essa batalha? Para isso, teria que mudar o pensamento econômico de quem passou a vida defendendo esse modelo. Como dizia Millôr Fernandes, quando as ideologias ficam velhinhas, elas vêm morar no Brasil.