Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Ignorância

A melhor forma de tratar um ignorante é simplesmente ignorá-lo

Ao sair de um estádio de futebol um torcedor se virou para responder a uma provocação de um torcedor rival. Atrás dele, alguém mais sábio lhe disse: ignora e segue em frente. A melhor forma de tratar um ignorante é simplesmente ignorá-lo. Apesar da cacofonia, é um belo exemplo do uso da ignorância como forma de evitar um conflito. Deixando claro que o conceito aqui utilizado é da falta de conhecimento de um aspecto particular. Essa ausência pode ser ocasional ou proposital. Algumas pessoas ignoram alguns aspectos por não terem acesso à informação e outros por conveniência. Um grupo de operadores do direito que ficou conhecido como “Nós Tratamus” divulgava parte de informações e gravações e ignorava outras por conveniência. As pessoas que acreditaram e se mobilizaram, o fizeram com base no pedaço de informações que lhes foi dado.
 
Conveniência
Um deputado federal, eleito com base num movimento “livre”, declarou que Karl Marx havia reconhecido seus erros quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Não sei como isso poderia acontecer uma vez que ele faleceu 31 anos antes do inicio do conflito. Teria sido num centro espírita? Outra pseudo-intelectual da mesma estirpe declarou que Simon Bolívar, o Libertador das Américas, foi influenciado por Marx e Lênin. Algo difícil de ter acontecido, pois o Libertador morreu em 1830, quando Marx tinha 12 anos, e Lênin nasceria somente 40 anos depois. Alguns dos meus 18 leitores devem ter visto essas postagens nas redes sociais. É só um exemplo da ignorância como instrumento da pós-verdade.
 
Estratégica
A pesquisadora canadense Linsey McGoey está publicando um livro sobre seus estudos que denomina de “ignorância estratégica”, no qual relata vários exemplos de pessoas que exploram o desconhecimento para ganhar mais poder. Geralmente, a ignorância das pessoas simples é a mais criticada, porém, a pesquisadora demonstra que as pessoas com mais poder são as que mais lucram com a exploração deliberada de informações deturpadas. Os exemplos são abundantes: as armas químicas de destruição em massa que serviram para justificar a invasão do Iraque e que nunca foram encontradas. Outro exemplo é o do presidente americano, e que encontra vários seguidores no mundo, quando afirma que as mudanças climáticas são uma farsa, porque reconhecer esses problemas atrapalha os interesses econômicos e políticos americanos. No Brasil da pós-verdade e de fake news, não precisamos citar exemplos, porque eles ocorrem em tal velocidade que já estariam defasados quando fossem publicados.
 
Pandemia
Nos próximos dias estaremos convivendo com restrições incomuns devido ao novo vírus. Será a oportunidade de observar exemplos variados de ignorância. Desde o comportamento do povo, até os governantes. Países que estão sofrendo com a pandemia usam palavras como “tragédia”, “guerra”, entre outras expressões fortes para tentar conscientizar a população. Por aqui, a falta de um inimigo para apontar o dedo e colocar a culpa deixou um rastro de desnorteados: “Fantasia”, “tem algo estranho aí”, entre outras bobagens. Talvez essa crise mostre aos ignorantes o verdadeiro valor da ciência.