Se ficou essa dúvida na coluna anterior, quero dizer que se fosse um dos entrevistados na “pesquisa de rua” estaria entre os 90% que aprovam

Questionado por um dos meus 18 leitores (recebi um e-mail dizendo ser da leitora número 21, mas o estilo parecia ser de uma tia minha. Talvez querendo me agradar, ou para me mostrar que não sei contar. Vai saber?). Em todo caso, fui questionado por um dos meus leitores conhecidos se eu era contrário a um novo hotel na cidade. Ao contrário, sou totalmente a favor. Se ficou essa dúvida na coluna anterior, quero dizer que se fosse um dos entrevistados na “pesquisa de rua” estaria entre os 90% que aprovam. A propósito, o que teriam respondido os outros 10%? Seriam contrários, não tinham opinião sobre o assunto, ou simplesmente não queriam responder? Tenho curiosidade sobre suas respostas, mas de qualquer forma eu estaria com os 90%. 

Mudança? Não
Agora, se na mesma pesquisa constasse a pergunta: você é favorável a alterar o plano diretor, autorizando construções acima de quatro andares para que o hotel se instalasse na cidade? A minha resposta, com certeza, seria não. Se fosse uma aposta da loteria esportiva seria um triplo não. E como tudo está sendo polarizado nos últimos tempos, se tivesse que escolher entre hotel e plano diretor, ficaria com o segundo, sem nenhuma hesitação. E se os responsáveis pelo projeto pensassem um pouco também fariam essa opção. Querem uma cidade com as características da nossa para atrair turistas ou estão em busca de uma mini metrópole, totalmente descaracterizada e que serviria apenas para o turismo de negócios? Outro ponto que deveriam considerar é sua inserção na comunidade e o entendimento dos seus valores e como ela percebe e recebe essas iniciativas. Um dos pontos relevantes em governança das organizações, e que deve ser considerado nesses casos, é seu relacionamento com os “stakeholders”, que representam parte do público interessado na organização mesmo que não seja investidor e que não possua relacionamento direto com a organização.  

Pesquisa
Certa vez nos Estados Unidos fizeram uma das primeiras pesquisas sobre as preferências em relação a qualidade dos veículos: grande? Sim. Robusto? Sim. Motor potente? Sim, etc... o resultado foi um carro que parecia um tanque de guerra: grande por fora, pequeno por dentro e grande consumidor de combustível. A pesquisa estava errada? Os respondentes não foram sinceros? A resposta é não para as duas questões. Acontece que faltaram questões cruciais, dessa forma o respondente não vai responder o que não foi perguntado. Henry Ford dizia que se tivesse feito uma pesquisa de mercado as pessoas responderiam que desejavam uma carruagem mais rápida. Esses são os lados das pesquisas, muitas vezes buscam apenas respostas que desejam esquecendo de buscar com maior profundidade o que pensam os pesquisados. Numa entrevista, o prefeito de uma cidade, que é um destino turístico muito procurado, foi questionado se não gostaria de ter um aeroporto na cidade, pois o local estava há aproximadamente 100 km da cidade. A resposta foi precisa: não, preferimos oferecer aos turistas o canto dos pássaros. Essa, provavelmente, é uma das razões do grande fluxo turístico. Mas não aprendemos. 

Dupla desfeita
Sinais de mudança na população? Moradores recusando o asfaltamento da rua. A famosa dupla “Zé Cascalho e Asfaltinho” parece não fazer o mesmo sucesso eleitoral.