Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Final

Acredito que temos pouco a comemorar e muito a lamentar.

Foi um ano difícil. Teremos muito para refletir e falta muito para entender tudo o que fizeram nesse pobre país. Acredito que temos pouco a comemorar e muito a lamentar. Nesta última coluna de 2016, uso este espaço para um pouco de reflexão, por meio do poema Monólogo do Natal, do poeta alagoano Aldemar Paiva. 
Eu não gosto de você, Papai Noel! / Também não gosto desse seu papel / De vender ilusões à burguesia / Se os garotos humildes da cidade / Soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia.
Você talvez nem se recorde mais / Cresci depressa, me tornei rapaz / Sem esquecer, no entanto, o que passou / Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente / Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado / Trouxe um trenzinho feio, empoeirado / Que me entregou com certa excitação / Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou” / E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso / Eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às suas mãos, no fim do mês / Limpei o trem, dei corda / Ele partiu dando muitas voltas / Meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez. 
O resto eu só pude compreender quando cresci / E comecei a ver todas as coisas com realidade / Meu pai chegou um dia e disse, a seco: / “Onde é que está aquele seu brinquedo? / Eu vou trocar por outro, na cidade”. 
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar / E como quem não quer abandonar / Um mimo que nos deu, quem nos quer bem / Disse medroso: “O senhor vai trocar ele? Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele / E por favor, não vá levar meu trem”. 
Meu pai calou-se e pelo rosto veio / Descendo um pranto que, eu ainda creio / Tanto e tão santo, só Jesus chorou! / Bateu a porta com muito ruído / Mamãe gritou, ele não deu ouvidos / Saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem / Que a infância arruinou, sem pai e sem brinquedos / Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre / Para a riqueza do menino pobre / Que sonha o ano inteiro com o Natal. 
Meu pobre pai doente, mal vestido / Para não me ver assim desiludido / Comprou por qualquer preço uma ilusão / E num gesto nobre, humano e decisivo, foi longe pra trazer-me um lenitivo / Roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara / No entanto depois de grande / Minha mãe, em prantos / Contou-me que fora preso / E como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia / Foi definhando, até que Deus, um dia / Entrou na cela e o libertou pro céu.