Falta de coerência
Existe uma longa distância entre o discurso e a prática
Existe uma longa distância entre o discurso e a prática. Quando se trata de gestores públicos a distância é enorme. Uma coisa é o que se diz na campanha e outra é o que se faz estando no governo. A questão salarial envolvendo o governo do Estado é um exemplo de que coerência é uma característica cada vez mais difícil de ser encontrada na gestão pública. A mesma pessoa que assinou a lei estabelecendo um piso salarial para o magistério, no caso o governador do nosso Estado, agora, estando no governo e tendo que cumprir a lei que ele mesmo assinou, simplesmente se recusa, dizendo que não há recursos. E o tempo poderia ter sido seu aliado, pois a lei foi sancionada em 2008. Passados quatro anos ela ainda não foi aplicada em no Rio Grande do Sul.Salário meu e dos outros
O mesmo governador que se nega a pagar o piso salarial dos professores, proposta elaborada e assinada por ele quando era ministro, não vacila quando se trata de estabelecer um piso regional para os trabalhadores da iniciativa privada. Assim, com muita pompa e discursos inflamados, deputados gaúchos aprovaram um reajuste de 14,75% do salário mínimo regional. Com isso, o valor passa a ser de R$ 700. Também aprovaram a mudança da data-base do reajuste para 1º de janeiro. Assim fica fácil. Quando é para fazer uma lei que os outros pagam todos são favoráveis – e o trâmite é muito rápido.
Justiça alheia
Não se está aqui defendendo um salário menor para os trabalhadores, muito menos questionando se determinadas categorias merecem ganhar mais. A história recente do país mostra que o discurso antigo de que era impossível melhorar o salário era uma mentira. Os benefícios econômicos e sociais estão aí para comprovar. A principal questão é a falta de coerência em legislar quando se trata de iniciativa pública e privada. Os fatos mostram critérios diferentes. É mais fácil fazer Justiça com o dinheiro dos outros.
Passarinho
Meu passarinho informante voltou. E logo tratou de me acalmar. Ele não mudou de lado e muito menos foi apanhado e colocado num menarosto. Mas me trouxe algumas novidades. Segundo ele, os poderes públicos estão numa sinuca danada: há pressão por todos os lados para que a “Lei dos Otários” seja aprovada de forma discreta, pois algumas empresas sérias estão depositando o valor dos aluguéis referente às “salas expandidas” na Justiça, temendo que o alvará “eternamente provisório” não seja mais fornecido. A segunda novidade diz respeito a um município da região em que os gestores e técnicos estão sendo investigados pelo Ministério Público por desrespeito ao Plano Diretor. Uma auditoria está sendo realizada analisando as obras aprovadas nos últimos 10 anos. Se a moda pega por aqui, vai ter muita gente que não poderá concorrer na próxima eleição.