Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Estupidez

Podemos dizer que a estupidez não é uma invenção recente, mas ela apenas tem se revelado de forma mais acentuada

Tem algum tempo, assisti um filme tratando da volta de Mussolini com um pouco de humor e de sarcasmo. O filme encerra com uma frase: “Eu não inventei o fascismo, eu só captei o que a maioria dos italianos pensava e transformei isso em política de estado”. Considerando os eventos ocorridos nos últimos tempos e, parafraseando o líder fascista, podemos dizer que a estupidez não é uma invenção recente, mas ela apenas tem se revelado de forma mais acentuada, e isso em vários aspectos e situações do comportamento do brasileiro. Talvez tenha sido potencializada pela pandemia, ou então, já existia e apenas se revelou de forma mais ampla e cristalina nos tempos mais recentes. 

Símbolo
Logo no início da pandemia, aconteceu a corrida aos supermercados para abastecimento de papel higiênico. Isso mesmo, se há algum símbolo de estupidez no início da pandemia este é o glorioso e indispensável papel higiênico. Talvez isso tenha sido o gatilho que começou a revelar os comportamentos mais insólitos. A marcha da estupidez continuou com a polêmica das máscaras. Elas seriam prejudiciais à saúde, eram inúteis contra o vírus e outras bobagens vinculadas por grupos em redes digitais. Em seguida, veio a acusação de que a pandemia não existia, não importava a realidade de outros países, as recomendações da OMS ou os estudos científicos. Nada disso importava, tudo era invenção da “oposição” ou de antipatriotas que desejavam o mal do país. A estupidez avançou para a invasão de hospitais e acusações de falsificação de laudos médicos, ou ainda, a estupidez maior de querer abrir as tumbas dos cemitérios para mostrar que os caixões estavam vazios. Que escritor de realismo fantástico pensaria em tal roteiro? 

Continuidade
O roteiro da insanidade continuou com a criação de inimigos imaginários, sejam aqueles que restringiam a movimentação e aglomeração das pessoas, ou os que imploravam por vacinas, enquanto autoridades zombavam e diziam não entender tamanha ansiedade. Inimigos eram aqueles que não pensavam em defender a economia, queriam apenas abalar o país. Na sequência surgem os tratamentos não comprovados e os estúpidos que os divulgavam e os defendiam. Para esses sempre havia um especialista no interior do país que se apresentaram no programa do “sabiá” ou do “zezinho” e que tinham comprovação de resultados com o uso de remédios. E a desinformação corria solta aumentado o séquito de estúpidos. 

Bilíngue
Inicialmente pensava em abordar os estudos de um economista italiano sobre a estupidez humana e seus efeitos na sociedade, mas essa reflexão trouxe fatos tão próximos, demonstrando que ainda temos muito a aprender. O mais recente destes fatos eu vi em uma foto em que alguém portava um banner de protesto bem ilustrado, impresso em material de qualidade e escrito num inglês sofrível. A pessoa que o carregava não era o autor da peça e também não tinha a mínima noção do que estava escrito. Se fosse dar um título seria “A internacionalização da estupidez” ou “A estupidez bilíngue”. Seria esse o fundo do poço? Não acredito. Como disse Einstein: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”.