Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Espetáculo

Surpresa e espanto foi o espetáculo deprimente dos parlamentares.

Espetáculo
A aprovação da continuidade do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados não surpreende. Surpresa e espanto foi o espetáculo deprimente dos parlamentares. Um bando gritando palavras de ordem, pulando como uma torcida de futebol num bar. Uma meia dúzia falou em crime fiscal para justificar seus votos, os demais não se preocuparam com um motivo tão fútil. A maioria não leu o relatório, votaram pela pátria, pela família, pela propriedade, pelos filhos, netos ou por qualquer causa cínica. Menos pela razão que a presidente estava sendo julgada. Foi julgada por uma coisa e condenada por outras.
O mais importante para os deputados foram os segundos de fama. Enrolados em bandeiras como se estivessem no carnaval, declaravam seu voto. Já imaginaram aquelas cenas num parlamento francês ou inglês? Deputados que nunca ouvimos falar tentavam justificar seus votos citando as cidades onde receberam mais votos. Uma tropa estranha, irracional, barulhenta e confusa passava a impressão de que ali estavam os encenadores mais espertos e malandros de cada região do país. Um belo retrato de um país sem rumo que busca salvação com a ajuda de ‘caranguejo’, ‘quadrilha’ e ‘cacique’. Agora vai.

Repercussão
A sessão em pleno domingo deu razão para aqueles que nos denominam de ‘república de bananas’. O mundo assistiu a um espetáculo dantesco e repercutiu de acordo. O jornal britânico The Guardian disse que um Congresso “hostil e manchado pela corrupção” votou pelo impedimento e mostra temor de que acabem as investigações. Alguém duvida? A revista alemã Der Spiegel deu como título “A insurreição dos hipócritas”, onde afirma que o Congresso brasileiro mostrou sua “verdadeira cara”. O maior jornal do mundo, o New York Times, em seu editorial, afirmou que o processo foi conduzido por políticos acusados de crimes mais graves do que os atribuídos à presidente.

Revelações
Uma das revelações é que o país não tem partidos. Podemos dizer que existem grupos, ajuntamentos, e em alguns casos, bandos. Qualquer coisa, menos partidos políticos. Exemplos disso não faltaram na votação do impeachment. O partido que abandonou o governo teve deputados votando a favor, por outro lado o partido que declarou apoio teve componentes que votaram contrários. Participantes do governo até a sexta-feira mudaram de lado no domingo. A direção nacional apoia um lado, mas um pequeno grupo é contra. Assim seguem os interesses. Cada grupinho acha que seu partido é diferente a nível local.
Ficou claro que os políticos podem ser ágeis. Quando interessa trabalham até no domingo, por mais evangélico que seja o presidente da Câmara. Alguém se deu conta que o processo contra o corrupto presidente da Câmara iniciou dois meses antes e ainda não andou? Com o resultado de domingo, ninguém duvida que ele seja inocentado e os R$ 52 milhões em contas no Exterior sejam atribuídos a alguma ‘graça divina’. Com o cúmplice silêncio de todos. A terceira revelação é que conhecemos muito pouco da história do nosso país e por isso mesmo estamos representados no triste espetáculo de domingo.
A propósito: depois de ser tão citado, dizem que Deus olhou para o Congresso e decidiu renunciar.