Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Emitir ou não?

Economistas já debatem o que as autoridades poderão fazer para a recuperação econômica e social

Ainda não sabemos a extensão dos estragos que resultarão da pandemia. Eles estão sendo sentidos tanto no aspecto econômico como no lado social. Mas quando isso parar, o que teremos? Será uma catástrofe? Ou não será algo tão trágico? Ainda não sabemos, mas os economistas já debatem o que as autoridades poderão fazer para a recuperação econômica e social. O que se percebe é que mesmo os mais liberais e que odeiam a intervenção do Estado, concordam que alguns princípios dessa escola devem ser relativizados devido ao triste momento. A maioria concorda que num momento desses, o Estado deve ampliar os gastos em saúde e ajuda assistencial para aqueles que estão sem renda, sem emprego e sem alternativas. Mas como aumentar os gastos e manter o equilíbrio das contas? As respostas possíveis são: emitir moeda ou aumentar a dívida. 

Moeda ou dívida
E de onde vem a receita para o Estado poder fazer isso? Em tempos normais, a primeira proposta que poderia surgir para equilibrar os gastos seria o aumento dos impostos. Nesse momento isso é impossível, a não ser que o objetivo seja aumentar a recessão e ampliar as dificuldades das empresas. Assim começam a ser debatidas as alternativas possíveis: emitir moeda ou aumentar a dívida. O Banco Central é proibido por lei de emitir moeda para financiar o tesouro público. Quando o estado gasta mais do que arrecada o tesouro emite títulos de dívida para se financiar. Acontece que esses títulos são vendidos para os bancos, e estes, por sua vez, buscam recursos junto ao Banco Central que dessa forma emite moeda. Na prática, o efeito é o mesmo, o aumento da base monetária, porém contabilizado como dívida e não como expansão de moeda. 

Efeitos
Muitos ainda estão presos a ideia de que emitir moeda acima do crescimento da renda do país é uma das causas da inflação. Isso podia ser no mundo de anos atrás, onde a moeda tinha um lastro em ouro, mas isso acabou. Os defensores da emissão de moeda alegam que os efeitos nas finanças do Estado, serão os mesmos, ou seja, o aumento da dívida. Com uma diferença contábil, a moeda é um passivo do Banco Central, por isso não é computada como dívida pública. Pelo lado prático há uma diferença fundamental, a moeda diferente da dívida, não cobra juros e não tem prazo de vencimento. É preciso lembrar que foi exatamente isso que fizeram os países desenvolvidos quando da crise do sub prime nos anos de 2008 e 2009. Aumentaram a base monetária imprimindo dinheiro para comprar títulos públicos e batizaram a estratégia com um nome charmoso: “quantitative easing”, para que poucos entendessem o que estava acontecendo e evitar críticas dos teóricos monetaristas. Estudos apontam que a quantidade de moeda circulando aumentou 10 vezes, seja em dólar, euro ou yen. 

Efeitos 2
Os defensores da emissão de dívida alegam que essa forma é a mais fácil para manter o controle dos governantes sempre dispostos a fazer gastos demagógicos e com objetivos eleitoreiros. Os defensores dessa alternativa apontam para o fato de que a dívida seria interna e o estado sempre teria possibilidade de fazer um refinanciamento. É aconselhável uma boa dose de prudência, em qualquer das opções. Como todo remédio, uma dose exagerada pode matar o paciente.