Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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E precisa?

A notícia que agita o mundo corporativo desde a semana...

A notícia que agita o mundo corporativo desde a semana passada é a fusão (?) entre Pão de Açúcar e Carrefour. Dois gigantes do varejo envolvidos num negócio que nasce encoberto em dúvidas. Para juntar as duas empresas, que em 2010 faturaram 65 bilhões de reais, estão fazendo uma solicitação de empréstimo ao BNDES de 4 bilhões de reais. O dinheiro do BNDES é nosso. O principal acionista do banco é o governo e a principal fonte de recursos são tributos cobrados no nosso consumo. A pergunta que incomoda: Precisa? Ou será que é apenas um pretexto de pegar mais recursos baratos, enquanto os recursos próprios são investidos em ativos mais rentáveis? Ou será apenas um subterfúgio para ter um braço governamental a seu lado sempre a postos para colocar mais recursos?
Bom negócio?
Partindo do princípio da necessidade de recursos, uma empresa deste porte teria condições de conseguir com outros bancos nacionais ou internacionais, afinal o valor representa menos que um mês de faturamento das empresas. Enquanto isso, os bancos franceses estão sendo forçados pelo próprio governo a rolar os débitos da Grécia. Será que eles não têm recursos para emprestar para os dois gigantes do varejo, sendo um deles francês? Por que um banco nacional, estatal, tem que fornecer os recursos? Se o negócio é tão bom como dizem, com certeza, haverá fundos de equity interessados em investir. Enrolado nesse pacote tem algo que não cheira bem.
Interesse
Fosse um negócio claro e transparente como estão tentando nos convencer, não haveria tanto imbróglio com os sócios franceses concorrentes do próprio Carrefour. Pelas manifestações, eles não querem o negócio. Outra pergunta incômoda: porque uma empresa se recusa a comprar parte das operações do concorrente? No mínimo, estranho. É um negócio de gigantes, onde as duas partes juntam os ativos e o governo (nós) através do BNDES, entra com os recursos necessários a liquidez. O empresário dono do grupo pão de açúcar faz o discurso sobre o “interesse nacional” e que o negócio seria “bom para todos”. Tenho muitas dúvidas se é bom para o país ter uma empresa varejista com tanto poder. E tenho certeza que um negócio desse tamanho não precisa de capital de um banco estatal. Será bom apenas para os proprietários e seus advogados.
Prejuízo
Desde o ano passado surgiram notícias de prejuízo contábil de 1 bilhão e 200 milhões no Carrefour e começaram os rumores de que a empresa estaria deixando o Brasil. No mercado se comenta que o prejuízo é devido a forma de contabilização de descontos recebidos além de outras práticas exóticas que a empresa usava para obter vantagens. Na linguagem de um empresário “já tinham contabilizado o sangue que ainda não haviam tirado dos fornecedores”. Em se confirmando a decisão de deixar o Brasil, seria uma dádiva conseguir 4 bilhões de um banco estatal e ainda se associar com uma grande rede na formação de uma nova empresa. E tem gente no governo defendendo isso.