Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Despedida

Esta é, sem dúvida, a coluna mais difícil que escrevi

Esta é, sem dúvida, a coluna mais difícil que escrevi. A última a ser publicada no jornal impresso. Uma história bonita que chega ao fim após 37 anos. O que está encerrando não é apenas um ciclo. Em um país de pouca memória, está fechando o repositório de quase quatro décadas da vida de Flores da Cunha. Quem foi o campeão de bochas no ano de 2011? Eu não sei, mas se quiser saber há um lugar para pesquisar onde isto foi registrado: O Jornal O Florense. Essa memória está sendo desligada. Estaremos, por enquanto, no ambiente digital, onde os fatos são imateriais e efêmeros. Será que sobreviveremos nesse novo ambiente? Difícil dizer, mas estaremos na luta por mais algum tempo. 

Papel

O papel do jornal não se resumiu a ser somente o registro dos acontecimentos, ele foi muito além, serviu como indutor e produtor cultural, como promotor de eventos, foi a forma de expressão da comunidade, muitas vezes o último recurso de cidadãos que não conseguiam atenção para os seus problemas. Foi espaço para reflexão sobre vários aspectos da cidade. No futuro alguns irão pesquisar sobre o jornal e provavelmente farão a pergunta: Por que encerrou as atividades? As respostas deverão ser buscadas na miopia cultural. Com a descontinuidade do jornal, alguns setores, principalmente o público, poderão fazer seu próprio panfleto para autopropaganda, exaltando a gestão onde constarão suas pequenas obras, algumas inacabadas, muitos projetos e alguns devaneios. Poderiam colocar, entre suas realizações, que boicotaram o jornal. Não farão isso por absoluta falta de coragem. 

Sobrevivemos

Não é momento de lamentar, mas de lembrar o que o jornal superou nestes 37 anos. Convivemos com poderes de todos os partidos, tivemos apoio de alguns e boicotes de outros, dependendo da ocasião, mas o que nunca faltou foi o reconhecimento da comunidade. Incomodamos alguns, com críticas sobre as decisões e iniciativas, nunca contra as pessoas. Sempre defendemos o que acreditávamos ser o melhor para a comunidade, mesmo que isso implicasse em se expor a críticas e algumas vezes a pressões políticas ou econômicas. Também sobrevivemos a tentativas de destruir o jornal, criando uma concorrência financiada com recursos de origem duvidosa. Quanto a este colunista, teria sido mais cômodo falar de assuntos econômicos, evitando assuntos da comunidade. Optei pelo caminho mais difícil, de abordar assuntos locais, mesmo tendo que me expor as pressões e críticas de todos os partidos. O que mostra que sempre estive no mesmo lugar, os interesses dos outros mudavam conforme o momento. 

Vencedores/Perdedores

Sabemos que alguns estão comemorando o fato. Talvez por ignorância, talvez por estupidez, ou a soma das duas, que preenchem os espaços vazios de seus cérebros impedindo que façam uma análise mais crítica sobre a importância de um jornal comunitário. Esses mesmos poderão comentar com seus pares que agora não haverá críticas aos seus planos, talvez nos nichos escuros em que se encontram haverá brindes e gritos de vitória, se considerarão vencedores em uma guerra contra um inimigo que nunca existiu a não ser nas suas mentes entorpecidas. Nesta coluna de despedida, me vem a memória o trecho de um discurso de Darcy Ribeiro, que ouso parafrasear: Fracassamos em nosso intento? Tentamos fazer um jornal sem títulos apelativos e de baixo nível, não foi suficiente? Procuramos elevar o nível cultural, dando espaço para diversas manifestações artísticas, falhamos? Nos esforçamos para fazer um jornal sério e que fosse sustentável, não conseguimos? Buscamos elevar o debate político sobre os interesses do município e não fomos compreendidos? Esses ‘fracassos’ são os troféus que ficarão na história do O Florense. Eu detestaria estar no lugar daqueles que pensam que venceram.