Difícil mesmo é entender algumas propostas, assim como fugir do lugar comum e tentar aprofundar alguns assuntos

A ignorância tem um lado positivo. Quem desconhece algumas coisas pode fazer as afirmações mais descabidas. Certa vez um legislador afirmou que eu não comentava assuntos econômicos porque isso dava trabalho. Ele ignora que falar desse assunto é muito fácil, principalmente se for para repetir o que dizem as manchetes de algumas publicações. Difícil mesmo é entender algumas propostas, assim como fugir do lugar comum e tentar aprofundar alguns assuntos.
Uma das medidas impopulares do novo ministro da Fazenda foi cancelar os benefícios da redução tributária sobre a folha de pagamento de alguns setores. Segundo ele, a brincadeira custou R$ 37 bilhões para o país. Relembrando: na tentativa de animar a economia e aumentar a oferta de empregos, o ministro anterior reduziu a tributação sobre a folha de 56 setores. Isso aconteceu em 2011 e foi uma experiência que encontra defensores numa grande corrente de economistas e em muitos empresários. Segundo essa teoria, a redução dos encargos fará com que os preços baixem e o aumento da demanda irá compensar o que foi deixado de arrecadar. Depois de quatro anos, os dados macroeconômicos desmentiram a teoria. Embora os estudos sejam escassos, algumas evidências podem ser encontradas nas empresas que, em vez de aumentarem a demanda, optaram pela ampliação dos lucros.
Exemplo
Uma empresa de capital aberto pertencente a um setor beneficiado pela medida apresentou os seguintes resultados: aumento da produção em 30%, aumento do número de funcionários em 25%, aumento da margem operacional em 40%. O aumento na arrecadação de tributos é um pouco mais complexo de verificar, uma vez que não aparecem claramente nas demonstrações financeiras. Com o fim da desoneração, qual será a decisão da empresa? Já está anunciado: vai aumentar os preços ou reduzir o número de funcionários.
Maluquice
As últimas manifestações ‘espontâneas’ foram um belo exemplo da maluquice ideológica e do desconhecimento sobre o funcionamento da República. Numa cidade próxima, na pauta de reivindicações constava a extinção de um jornal de outro Estado. Seria isso um exemplo de democracia? Os manifestantes se colocaram contra a reforma eleitoral. Isso significa que estão contentes com a forma como as coisas estão colocadas, onde deputados sem votos se elegem na carona daqueles chamados ‘populares’ ou com forte apoio da mídia. Pedem a exclusão de um ministro do Supremo. Por qual razão? Seria o ministro que mantém trancado o projeto de doações para a campanha? Não. Seria por que o projeto já está aprovado e só não vigora por algum interesse do ministro? Não. Seria por que é o mesmo ministro que deu dois habeas corpus em 48 horas para empresário corruptor? Não interessa. Eles não precisam justificar. Nem precisam saber que a independência dos poderes não permite que um poder interfira em outro. O lado positivo da iniciativa é fomentar o debate. Por outro lado, mostra que ainda falta maturidade política.