Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Desmatamento e pressão

As redes sociais, por um lado democratizaram e ampliaram o espaço para debate e manifestações, por outro lado, revelam personagens

As redes sociais, por um lado democratizaram e ampliaram o espaço para debate e manifestações, por outro lado, revelam personagens, no mínimo excêntricos, que duvidam de especialistas e passam a acreditar nos amigos que enviam recomendações e opiniões de “pseudo especialistas”. Geralmente são pequenos vídeos ou textos curtos, onde alguém se apresenta como especialista da área e passa a desfilar algumas opiniões que são deglutidas facilmente, sem nenhuma reflexão.  Dificilmente são encontrados textos com referências ou com argumentos que possam ser verificados. A opinião vale por si só e não necessita de questionamentos. Foi assim há um ano atrás sobre o desmatamento da Amazônia.

Repercussão
Não tem muito tempo que organismos internacionais denunciaram a devastação ilegal da Amazônia. Qual foi a reação em alguns setores? Negar e negar. Sempre negar, mesmo sem argumentos, apenas para negar. Os dados são de um órgão oficial do governo? isso não interessa, deve estar cheio de agentes da oposição infiltrados. Os estudos científicos mostram que essa é a realidade? A resposta é não acreditar na ciência. Um dos argumentos ouvidos foi que a percepção era diferente e que as queimadas diminuíram. Um negacionista de alto calibre afirmou que era pressão da esquerda para denegrir a imagem do Brasil no exterior. O debate vai para o lugar comum do “nós contra eles”, “eles” eram a ciência, os dados oficiais, os observatórios nacionais e estrangeiros. “Nós” era nosso grupo e nossa opinião. E no esgoto digital das redes sociais começa a luta entre “nós” e “eles”, sempre com poucos argumentos e muitas ofensas. 

Pressão econômica
Aos poucos a verdade começa a prevalecer. Não pela imposição da ciência ou de estudos científicos, mas pela pressão econômica. Uma das maiores compradoras de commodities agrícolas do mundo afirmou que vai exigir a rastreabilidade de toda a soja proveniente do Brasil para garantir que não seja oriunda da Amazônia desmatada. Uma empresa norueguesa suspendeu a compra de rações da fornecedora devido o uso de soja de procedência brasileira. Um fundo de investimento que gerencia 20 trilhões de reais publicou uma decisão de retirar do portfólio empresas que adquiram produtos de áreas brasileiras devastadas. Um estudo de uma respeitada universidade inglesa aponta que 34% dos títulos soberanos do Brasil podem depreciar, caso persista a destruição das florestas. No Brasil uma grande empresa de proteína publicou uma declaração de que não necessita do gado criado na Amazônia para suas operações. Foi o início de um movimento que tem crescido de forma exponencial, mais que os contaminados pela Covid-19. 

Resposta
Há poucos dias foi entregue uma carta ao governo, assinada por 29 instituições financeiras responsáveis pelo gerenciamento de 3,7 trilhões de dólares (devem ser comunistas). Elas afirmam que o desmatamento gera incerteza generalizada para investir no Brasil. Diante dessa pressão, vários ministérios se reuniram para responder aos investidores. Ao invés de propor soluções, uma das propostas foi de fazer uma campanha publicitária no exterior. Por favor, segurem os risos. Nesta semana, 38 empresas de grande porte, pertencentes a vários setores, manifestaram sua preocupação. Segundo elas as repercussões negativas têm trazido enorme prejuízo para o Brasil, não somente na reputação, mas no desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país.  Ao que parece, agora acreditam que o desmatamento é real e até uma proibição de queimadas está na mesa de negociação. Quem diria?