Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Desabou

O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo semestre mostrou uma queda histórica de 9,7% em comparação com o primeiro trimestre do ano

E o PIB desabou, ou desmaiou. Nocauteado como se tivesse recebido um direto no queixo, como se dizia no boxe de antigamente. O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo semestre mostrou uma queda histórica de 9,7% em comparação com o primeiro trimestre do ano. Quando comparado ao mesmo período do ano anterior, a queda é ainda mais acentuada, chega a 11,4%. Surpresa? Nem tanto. Como o PIB resulta da soma dos bens e serviços produzidos no país, quando colocado dentro do contexto era uma queda esperada. Isso pode ser observado nas previsões dos agentes do mercado, que colocavam suas apostas entre 8% e 10%. O motivo é aquele mesmo dos últimos meses. Num período em que parte da economia ficou totalmente parada devido à pandemia o resultado não poderia ser muito diferente. 

Recessão
Com base nos dados divulgados, estamos tecnicamente em recessão. Para quem acompanhou os dados dos outros países também não se surpreendeu. Com exceção da China (+11,5%) e Índia (+0,7%), a maioria dos países tiveram queda no PIB – Estados Unidos (-9,1%), Alemanha (-9,7%). O que prejudica o Brasil com mais intensidade é que ainda não recuperamos as perdas da última recessão do período 2014-2016. Tudo isso somado coloca nosso PIB no mesmo volume de 2009 quando o mundo sofreu com a quebradeira da economia americana. 

Razões
Um dos dados da pesquisa se sobressai pelo impacto e pelas consequências. O consumo das famílias caiu 12,5% no segundo trimestre. Esse item representa 65% do PIB brasileiro. Segundo os técnicos do IBGE, o consumo das famílias não teve uma queda devido ao auxílio emergencial e o crescimento do crédito. Essas duas medidas injetaram liquidez na economia e compensaram os efeitos negativos. Esse efeito é demonstrado por diversos estudos econômicos, sendo muito fácil de entender: se aumenta a renda das famílias, aumenta o consumo, uma relação direta e linear até um determinado nível de renda. Quando ocorre o contrário a economia desacelera pelo motivo óbvio de que, sem renda não há consumo, sem consumo não tem crescimento econômico e isso se reflete no PIB. A pergunta que ninguém responde é porque fazer arrocho no salário mínimo se os efeitos estão comprovados. 

Contradição
É o momento de refletir quais teriam sido os efeitos se o auxílio tivesse sido de R$ 200 como proposto inicialmente pelo governo. Não é demais lembrar que o aumento para R$ 600 foi a alteração realizada no congresso. As reações foram de chamar os legisladores de traidores e o ministro da Economia afirmou, na época, que isso iria quebrar o país. A contradição está em reconhecer que o consumo das famílias é importante, que o auxilio emergencial nesse momento foi importantíssimo, porém, no orçamento do próximo ano, o salário mínimo foi reduzido. Como medida para aliviar a má notícia o governo estendeu o auxílio emergencial para quatro meses com o valor de R$ 300. Uma medida acertada. Estamos no momento seguinte ao direto no queixo, torcendo para que a contagem do juiz não chegue ao fim antes do soar do gongo. E o juiz continua contando.