Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Dentes

Os dentes já foram assuntos da revista Piauí e o do jornal O Estado de São Paulo, abordando como as verbas do orçamento secreto são desviadas

Nesta semana, os dentes de crianças se tornaram uma das notícias mais terríveis e absurdas sob todos os sentidos: se for verdade, é um crime terrível e que deveria ter sido investigado. Se for mentira, é mais uma das tantas que são divulgadas de forma irresponsável e inaceitável, e os autores deveriam ser responsabilizados. Mas os dentes já foram assuntos da revista Piauí e o do jornal O Estado de São Paulo, abordando como as verbas do orçamento secreto são desviadas. Uma das formas é enviar valores vultuosos para pequenas cidades do interior que inflam os dados dos procedimentos de saúde que informam ao SUS (Sistema Único de Saúde). Já existem investigações sobre a prática do autor da emenda, que fica oculto nos registros do congresso, solicitar a “volta” para as prefeituras. Deixar bilhões de reais para os deputados enviarem de forma oculta a quem desejarem não é corrupção. Pelos menos é o que alguns dizem e querem que acreditemos. Abaixo alguns exemplos.

Desdentados 
Uma cidade do interior do Maranhão, com 39 mil habitantes, informou que no ano de 2021 realizou 540 mil extrações dentárias, isso dá, em média, arrancar 14 dentes de cada morador. Nos 4 primeiros meses de 2022, a mesma cidade já realizou 220 mil extrações. Somando os números dá para concluir que a cidade está desdentada, pois metade da arcada dentária de toda a população foi extraída em pouco mais de um ano. Para tornar o número mais escandaloso, é preciso comparar com uma cidade um pouco maior. São Paulo, com seus 12,4 milhões de habitantes, realizou 135 mil extrações no ano de 2021, ou quatro vezes menos. 

Exames
Outra cidade com aproximadamente 26 mil habitantes informou que realizou 45,2 mil consultas médicas, isso dá em torno de 1,7 consultas por habitante. Podemos dizer que é até um número aceitável. Mas o dado mais impressionante é o número de 96,8 mil atendimentos de urgência especializados. No ano anterior, nenhum foi realizado. Mas o número é surpreendente quando comparado: é o dobro das consultas normais e equivale a quase 4 atendimentos por habitantes. Também foram aplicadas 49 mil doses de colesterol (2 por habitantes) e 52 mil exames para verificar lesões no fígado (2 por habitante). E para colocar uma cereja azeda no amargo bolo dos desvios, foram realizados 3.101 exames para confirmar diagnósticos de infecção pelo HIV. Para avaliar o que isso significa é preciso ter um ponto de referência. São Paulo que tem uma população 477 vezes maior (12,4 milhões em relação aos 26 mil) realizou 2.976 exames do mesmo tipo. 

Controles
O esquema funciona mais ou menos assim: a prefeitura infla os dados no sistema do SUS, isso permite o envio de mais recursos para a saúde, o que é feito pelo orçamento secreto. Depois disso, os recursos vão para algum lugar desconhecido, menos para a saúde. Esses absurdos poderiam ser evitados? Sim, uma simples análise estatística identificaria os desvios em relação às demais regiões, porém, não evitaria os desvios, apenas os deixariam em níveis mais “normais”. Para evitar isso teria que ter mais transparência, tanto no envio quanto na aplicação dos recursos.