Essa é a primeira reunião desde o início do conflito que provocou aumento nos preços do petróleo e de outras commodities nos mercados internacionais

Esta semana tem reunião do Copom (Comitê de Política Econômica). O evento destinado a decidir sobe os rumos da economia, mais especificamente sobre a taxa de juros, é corriqueiro e acontece regularmente, porém o encontro desta semana é um dos mais importantes e desafiadores dos últimos tempos, principalmente por causa das incertezas criadas pelo conflito entre Ucrânia e Rússia. Essa é a primeira reunião desde o início do conflito que provocou aumento nos preços do petróleo e de outras commodities nos mercados internacionais. Esses aumentos iniciaram uma onda de choques de preços no mundo inteiro. Como escrevo antes do resultado da reunião, não tenho informações para comentar a decisão, por isso faço algumas considerações sobre os seus desafios. 

Um ano
A reunião também está carregada de simbolismos. Faz um ano que se iniciou o aumento dos juros. Em março do ano passado a taxa Selic era de 2% e hoje está em 10,75%. Da mesma forma, a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) continuou subindo de 6,1% para 10,5% no acumulado de 12 meses. Quando olhamos as duas informações, podemos observar que o remédio dos juros não tem funcionado, ao menos por enquanto, para combater a inflação. Essa é uma regra básica de uma ala de economistas que prega a redução da inflação pela redução da demanda, e para reduzir o consumo é preciso aumentar os juros. Porém, ao mesmo tempo em que o consumo é reduzido, a economia não cresce e não se criam novos postos de trabalho. 

Desafio
Este é o grande desafio para os técnicos do Copom. Se o aumento das taxas de juros for acelerado, irá fazer com que a população sofra ainda mais com o enfraquecimento da economia. Por outro lado, se resolver manter as elevações no ritmo atual, ou até aguardar para decidir o que fazer, corre o risco de ver a inflação disparar ainda mais, o que tornará mais difícil a tarefa de controlá-la. Uma ala de economistas defende que não há outros remédios além do aumento dos juros, mesmo que a nossa inflação seja causada por fatores externos, como o que está ocorrendo. Porém, há uma outra ala que defende medidas para assegurar fornecimento de insumos, principalmente fertilizantes, como medida para reduzir o aumento dos preços.   

Combustíveis
O aumento dos combustíveis só mostra a diferença de discurso de acordo com o lugar que os políticos ocupam. Se estão na oposição possuem todas as soluções e condenam a politíca para essa área, quando mudam de lado o discurso faz uma ginástica retórica buscando culpados longe dos verdadeiros responsáveis. Como o esgoto digital está cheio de “especialistas”, não vou entrar em detalhes, porque provavelmente serão respondidas com o fígado e não com a razão. Recebo uma mensagem comparando o preço da gasolina com o salário mínimo. Essa comparação tem ao menos dois problemas de interpretação. O primeiro é que quem ganha o salário mínimo não anda de automóvel, a não ser quando consegue uma carona, o que invalida qualquer análise. O segundo é que o salário mínimo não expressa o poder de compra, isto é, será que o valor do salário mínimo de 2008 compra o mesmo volume de bens que o salário de 2021? Da mesma forma as comparações que fazem com o preço dos combustíveis entre Brasil e países da Europa ou os Estados Unidos. O poder de compra desses países, bem como as condições de vida, são totalmente diferentes, então é o mesmo que dizer que o preço da jaca aumentou mais que o tomate.