Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Consignado

O que era para ser uma solução mais barata para o usuário pode se tornar uma armadilha.

O que era para ser uma solução mais barata para o usuário pode se tornar uma armadilha. Principalmente com as características do brasileiro de não calcular juros e se endividar facilmente. Duas informações de origens diferentes confirmam isso. Segundo dados do Banco Central, no período de 2017 até julho de 2018 foram concedidos aos beneficiários do INSS mais de R$ 106 milhões em empréstimos consignados. Dados do SPC Brasil mostram que em setembro 5,4 milhões de pessoas com idades entre 65 e 84 anos estavam registrados como maus pagadores, o popular ‘nome sujo’ na praça. Um aumento de 10% em relação a 2017.

Fluxo de caixa
Como alguém que pode solicitar um empréstimo consignado com juros ‘mais baixos’ consegue ficar inadimplente. A explicação parece estar na lógica do endividado. Ao tomar um empréstimo, a pessoa autoriza o débito diretamente na sua aposentadoria. Com isso, a solução momentânea que o empréstimo fornece, resulta no menor ingresso de recursos nos meses seguintes. Assim, se o empréstimo foi feito para pagar alguma dívida ou a aquisição de um bem, o tomador dever lembrar que vai receber um valor menor no futuro. Se o valor recebido não era suficiente para o orçamento do mês, vai ficar ainda menor por um bom tempo. Como o aposentado pode comprometer até 35% da sua renda (30% com empréstimo e 5% com o cartão consignado) quem não possuir o mínimo de controle poderá ter problemas de liquidez.
 
Comparar
Quando comparados com as taxas de mercado, o empréstimo consignado pode parecer atraente. Segundo o Banco Central, no mês de setembro os juros médios eram de 24,4% ao ano. Pode parecer um custo barato, mas se compararmos com o rendimento que o pequeno investidor consegue obter, a verdadeira comparação que se deve fazer, podemos ver a diferença absurda entre a remuneração e o custo. O pequeno poupador consegue remunerar sua poupança que atualmente é na base de 70% da taxa Selic. Isso significa uma expectativa de 4,55% ao ano, considerando que a inflação acumulada está em 4,53%, significa apenas a correção do dinheiro. Mas vamos ser otimistas e imaginar que ele coloque seu dinheiro em outro instrumento de renda fixa que renda 90% da taxa Selic, isso significa 5,85% ao ano. Portanto, ao tomar um empréstimo ‘mais barato’, estará pagando quatro vezes mais que a remuneração que pode ser obtida. 

Ilusão
A ilusão do empréstimo ‘mais barato’ é porque o comparativo geralmente é feito com as taxas de mercado, historicamente as mais altas do mundo, senão vejamos, segundo o Banco Central os juros do empréstimo pessoal estão em 122,2% ao ano e os juros do cheque especial em 301,4% ao ano. Para não necessitar fazer conta vamos imaginar um empréstimo de R$ 1.000: no primeiro exemplo o cidadão irá pagar R$ 2.220,00 e no segundo R$ 3.001,40.