Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

Contatos

Como eu descobri

Um dia num jornal jogado na rua vi a manchete anunciando que os Beatles tinham acabado. Beatles?  Para mim era apenas aquela banda que um grupo brasileiro cantava e que dizia  “Era um garoto que como eu amava os Beatles e Rolling Stones”

Quando os militares tomaram o poder eu tinha quatro anos. Foi golpe? Não tinha como dizer na época. Lembro apenas que tínhamos que rezar para que os comunistas não se apoderassem do Brasil. Alguns anos depois, já alfabetizado, lembro-me das manhãs de domingo e as caminhadas para ir a missa com meu pai. Após o compromisso com a fé, no caminho de casa eram muitas paradas para conversar com  os conhecidos na frente de algum bar ou armazém, os pontos de encontros sociais da época. Nesses lugares havia cartazes de terroristas procurados. A principal fonte de informação era o rádio e pouco se falava daqueles inimigos da pátria que iriam implantar o comunismo no Brasil. Minha trilha sonora dessa época era a música “Disparada”, na voz de Jair Rodrigues e a “Banda”, de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão. 
Passado algum tempo me lembro de outra música marcante e seu intérprete de voz aveludada que falava de pessoas que “acreditam nas flores vencendo o canhão”. Sem nenhum comentário, a música desapareceu da rádio que minha mãe ouvia. Por mais que eu tentasse sintonizar outra estação, não encontrava a música. Um dia num jornal jogado na rua vi a manchete anunciando que os Beatles tinham acabado. Beatles?  Para mim era apenas aquela banda que um grupo brasileiro cantava e que dizia  “Era um garoto que como eu amava os Beatles e Rolling Stones”. Só os conhecia dessa música, não sabia dizer os nomes dos componentes, suas músicas e pouco os ouvia. Minha trilha sonora era a música popular brasileira (MPB) no velho rádio Telefunken de válvulas.  
Com o tempo essas músicas foram desaparecendo. Os festivais que eu ia assistir na casa dos vizinhos que tinham televisão também deixaram de ser realizados. Eu me perguntava o porquê, mas não sabia onde buscar as respostas. No rádio muitas músicas estrangeiras. Algo que não me agradava. Até que certo dia ouvi “ouro de tolo” e algumas frases inesquecíveis: “eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”. Anos mais tarde, mesmo com recursos limitados, comprei o disco de Raul Seixas. Confesso que foi através dele que comecei a ouvir alguns rocks, principalmente brasileiros. Mas nunca abandonei a música brasileira, seja samba, marchinhas de carnaval, sertaneja (antes de surgir essa praga de sertanejo universitário e suas sofrencias ridículas).
O tempo passou. O período escuro da censura ficou para trás e podemos aprender um pouco sobre o Brasil, seus personagens e suas “tenebrosas transações”. Então as pessoas começam a rotular: comunista, socialista e outros “istas”. Mas esta semana descobri que não sou comunista. E como foi isso? A revelação veio do novo presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) ao declarar que os Beatles foram um plano para combater o capitalismo e implantar uma sociedade comunista. Tudo seria parte de um plano para vencer os Estados Unidos. Como comprova meu histórico, nunca os tive como meus ídolos, portanto, não sou comunista. Me sinto aliviado.  É questão de tempo para alguma “otoridade” afirmar que o verdadeiro nome não era John Lennon, era John Lenin. Como podemos ver, em todas as esferas, qualquer um pode cuidar da arte  e da cultura.