Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Combustível

Qualquer assunto que se queira debater tem um expert com uma solução mágica, simples e, geralmente, equivocada

Qualquer assunto que se queira debater tem um expert com uma solução mágica, simples e, geralmente, equivocada. A questão da gasolina que chegou a R$ 7,00 em alguns locais, com os devidos desdobramentos ao orçamento das famílias, assim como ao custo das empresas e aos índices de inflação de um modo geral, deveria abrir o debate sobre o preço dos combustíveis. Porém, estamos num momento de simplificação e polarização em que o debate não comporta sequer duas linhas de um argumento lógico. Uma das propostas colocadas parece um espasmo de inteligência, posto que não tem profundidade. Ela sugere que os governos estaduais reduzam o ICMS sobre os combustíveis, como se num passe de mágica o preço voltaria a patamares mais palatáveis ao consumidor. Está aí a solução mágica, porém falsa, cujo efeitos colaterais seriam mais graves que o problema dos preços.

Receita 
Colocada dessa forma populista, parece que o ICMS sobre os combustíveis é apenas um capricho dos governadores, porém, a realidade é que essa figura nefasta que sempre surge para destruir as fantasias, revela que a proposta é impraticável. O imposto estadual equivale a 28% do preço da gasolina e a 20% do total arrecadado pelos estados. Abrir mão desta receita exigiria cortes profundos em áreas que já estão debilitadas como educação, saúde e segurança. Mas, se os governadores a aceitassem, o governo federal zeraria a cobrança de PIS/Cofins e Cide que representa 11% do preço. Pode parecer uma boa proposta, para ingênuos. Esse tributo responde a menos de 2% de toda a arrecadação federal. Assim, abrir mão de 20% da arrecadação contra 2% é o mesmo que um fusca desafiar uma bicicleta para uma corrida, limitando a velocidade a 80 km por hora. 

Oscilação
Com base nesses dados, o Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda (Comsefaz) se manifestou diversas vezes explicando que os aumentos nos preços não estão relacionados à tributação estadual, mas são frutos da política de preços da Petrobrás, baseada na paridade do mercado internacional. Essa postura nos coloca numa situação que, se um Sheik ou Rei qualquer do oriente médio resolver reduzir sua produção de petróleo, a turbulência causada por esse fato se espalhará no mercado internacional e o consumidor brasileiro pagará sua parte nos estragos desse tumulto. 

Futuro
A solução não é simples e também não acontecerá no “grito” ou num discurso populista. Implica num planejamento de longo prazo, baseado em estudos técnicos. Seria a oportunidade de rever a questão tributária que está sendo debatida no Congresso Nacional e parece que a cada vez está mais desidratada. Uma verdadeira reforma tributária ajudaria a aliviar o consumidor, mas isso parece uma miragem num deserto de poucas ideias e muitas pressões. Outro debate seria em relação aos mecanismos que reduziriam a exposição do Brasil às oscilações do mercado internacional. Nunca é demais lembrar que temos uma das grandes empresas de Petróleo do mundo e não precisaríamos estar a mercê das turbulências internacionais. E se for olhar mais para o futuro, poderíamos discutir a diversidade de modais de transporte, com planejamento para ferrovias, hidrovias entre outras formas. Mas isso seria olhar para um horizonte amplo e muito distante, algo difícil num país em que a maioria dos gestores são míopes.