Roque Alberto Zin

Roque Alberto Zin

Opinião e Análise

Natural de Flores da Cunha, Roque Zin possui uma empresa de consultoria financeira em Caxias do Sul - a Majorem Engenharia Financeira. No meio acadêmico, Zin se destaca como bacharel em administração e é doutorando em finanças e professor da Universidade de Caxias do Sul desde 2001.

Na década de 80, Roque Zin foi tesoureiro da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e mais recentemente, – em 2004 – exerceu a mesma função no Hospital Nossa Sra. de Fátima.

Zin escreve colunas para O Florense desde fevereiro de 2002.

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Chuvas e consequências

A tragédia trouxe à tona o debate sobre a privatização de alguns serviços

Cidade dos rios vazadouros / Cimenta tua mata matada / A enchente é teu choro
Por todas as vidas futuras, presentes e antepassadas (Celso Viáfora e Patrícia Bastos). Esse trecho da música “Vozes da madrugada” retrata um pouco da cidade de São Paulo. Esta parte específica da música, feita por Celso Viáfora, que por sinal já participou e venceu a Vindima da Canção (bons tempos), foi lançada em 2021 no álbum “A vida é” e fala da cidade onde as enchentes são recorrentes e representam o choro. Ela se torna atual pelos problemas enfrentados nos últimos dias na maior cidade do Brasil e no estado mais rico do país, onde uma tempestade causou muitos danos à população.

Cortes

A tragédia trouxe à tona o debate sobre a privatização de alguns serviços. Isso porque, depois de quatro dias, ainda há um número significativo de moradias sem luz e sem água. Se fossem empresas estatais haveria gritos e reclamações e tudo seria debitado na conta da burocracia e ineficiência do estado. Não é esta a realidade paulista. A fornecedora de energia elétrica  foi privatizada há algum tempo.  Entre as suas medidas para melhorar a “eficiência” houve a redução de 35% do seu efetivo. Onde ocorreram esses cortes? Ninguém pode aferir as informações, pois só foi divulgado o total geral. Melhorou a eficiência? Ao que parece não. Uma tempestade e os usuários ficaram sem energia e sem explicações, porque segundo a empresa o “call center” congestionou. O que mostra que não existem medidas contingenciais de enfrentamento de riscos.

Eficiência?

Um estudo revela que a eficiência não evoluiu, ao menos para os consumidores. Dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) mostram que o atendimento para emergência era de 6 horas em 2018, ano que foi decidida a privatização. No ano seguinte, depois de privatizada, o tempo de espera passou para 9 horas, ou seja, um aumento de 50%. Em abril deste ano o tempo de atendimento passou para 13 horas. A pergunta necessária é: onde foi parar a eficiência e a agilidade atribuídas às empresas privadas? Outro ponto a ser debatido é a quem responsabilizar. Talvez, na capital financeira do país, seja o momento de debater os critérios e a forma de repassar empresas prestadoras de serviços para a iniciativa privada. O que deve prevalecer? O lucro ou a eficiência? É óbvio que qualquer investimento visa recuperar o capital obtendo lucro com a operação, mas como medir a eficiência? Pelo lucro distribuído aos acionistas ou pelo serviço prestado ao cidadão?

Responsabilidade

Também deve ser posto neste debate as questões estratégicas de colocar nas mãos da iniciativa privada o fornecimento de um insumo essencial como energia, pois o dono da concessão poderá decidir, no futuro, a quem atender e a quem deixar de atender. Nos Estados Unidos, um dos maiores escândalos corporativos foi o caso Enron, que revelou questões mais profundas do que a simples falta de energia em alguns estados. Será que aprendemos algo?